terça-feira, 30 de novembro de 2010

ARTE E RELIGIOSIDADE: UM OLHAR PARA O CENTRO DE CULTURA MESTRE NOZA



Desde a Pré-história o homem procurou diversas formas de expressar sua fé, criando objetos artísticos ou rituais envolvendo o próprio corpo para cultuar o divino. Nesse caso, a arte se mistura a religiosidade da arquitetura das igrejas aos altares em homenagem ao coração de Jesus nas salas das casas; A arte e a religiosidade se misturam no artesanato – em cada peça esculpida pelo artesão marcada pelo sentimento de fé e devoção. A arte e a religiosidade se misturam também nos adereços que enfeitam e enfatizam a crença e o culto ao sagrado.
O Ponto de Cultura Mestre Noza em Juazeiro do Norte é um espaço onde podemos encontrar diversos registros dessas expressões artísticas a partir das peças artesanais ali confeccionadas.
O artesanato é uma das principais fontes de renda da região, especialmente por que na época das romarias Juazeiro do Norte torna-se um grande palco da religiosidade popular no Ceará.
Além do aspecto da religiosidade, onde há a predominância da arte sacra como verificamos as inúmeras representações do Cristo, da Virgem, dos santos e do Padre Cícero grande incentivador da cultura popular em Juazeiro do Norte. Os artesãos do centro Mestre Noza representam em suas esculturas outras diversas manifestações culturais típicas da nossa região como: as bandas cabaçais, os personagens do reisado de couro, o maneiro-pau, a lapinha, os trabalhadores, e outras figuras que fizeram história em nossa região como Luiz Gonzaga, Patativa do Assaré, Lampião, etc.
O Centro de Cultura Mestre Noza foi fundado no ano de 1985 e recebeu esse nome em homenagem ao escultor e xilogravador Inocêncio Medeiros da Costa – o mestre Noza. Inocêncio é pernambucano e veio a Juazeiro para conhecer o Padre Cícero que logo percebeu seu talento e criatividade, incentivando-o a desenvolver sua arte, em pouco tempo fixou residência na cidade e se consagrou como primeiro escultor e xilogravador do município.
Seu trabalho ganhou notoriedade na cidade e muitos vieram aprender com ele. Mestre Noza foi o patriarca dos artesãos do município de Juazeiro do Norte e teve muitos discípulos que aprenderam a arte de transformar a madeira e o barro frio em peças que ganham significado e valor ao expressarem a crença, a fé, a devoção e o culto ao sagrado.
Testo escrito por Jerlândia - professora de Arte.

quinta-feira, 7 de outubro de 2010

A Prece: Marcel Mauss


Neste trabalho Mauss vem inovar nas questões metodológicas no que discerne a construção do conhecimento científico. Embora, durante todo o período da composição da obra, Mauss, não fez o uso de outros métodos, pois a sua pesquisa foi de cunho exclusivamente teórico, mas de grande contribuição especificamente para no que se refere ao estudo dos fenômenos religiosos.
A obra foi escrita em 1909, e veio neste período renovar as idéias da antropologia daquela época, pois criticava as diferentes tradições de estudo dos fenômenos religiosos e dos fatos sociais. Abordando de forma inédita este tema, observa nos estudos feitos anteriormente sobre o fenômeno “prece” um desinteresse do pesquisador com relação a possíveis relações diretas ou indiretas deste fenômeno com as mais diversas áreas da ciência.

As críticas recaem sobre as mais diversas áreas. Os fundadores da Ciência da Religião não foram capaze4s de levantar de forma profunda tal problema. Estudaram questões que se encontraram apenas no seu campo de estudo. Desde os filólogos, que se encarregavam de estudar determinada língua, sob uma ótica histórica, apreenderam-se apenas a seus significados, deixando de lado o sentido intrínseco, a sua eficácia. Quanto aos antropólogos que produziram trabalhos na área da religião, preocuparam-se apenas em traçar uma li8nha existente na vida religiosa de toda a humanidade. A História se preocupou mais em descrever a prece como um simples fenômeno religioso pertencente a rituais de várias religiões.

Por fim, os teólogos e os filósofos foram os maiores teóricos da prece. Os teólogos foram responsáveis por inúmeras teorias sobre a prece. Mas, embora tivessem produzido uma quantidade significativa, seus escritos eram prenhes subjetividades, o que não era considerado por Mauss, que foi muito influenciado pelo seu tio Emille Durkheim. Neste caso refere-se Mauss: “a maneira com que concebiam, é em si apenas um documento sobre seu estado de espírito”, ou seja, não era considerado um documento científico.

Já os estudos filosóficos são marcados pela presença de juízo de valor dos seus produtores. Preocupavam-se através de um método introspectivo, explicar tal instituição. Assemelham-se aos teólogos, por não estudarem diretamente a prece, mas sim a idéia que fazem sobre ela, baseados em idéias positivas, recebidas do conhecimento que tinham desta ciência.

O interesse de Mauss estudar a prece partiu da observação partiu de tal fenômeno, apesar de ocorrer externamente aos seus praticantes, é tão importante e mostra como uma mesma instituição pode desempenhar funções tão diversificadas apresentando-se em diferentes formas e mesmo assim não muda a sua natureza. Desta forma, a prece seria então o ponto central do processo evolutivo da vida religiosa das sociedades. De início, ela apresenta como uma forma rudimentar que passando pelas vicissitudes históricas, vai sendo redefinidas como cânticos salmodiais do mundo mágico-religioso e “se desenvolve depois, sem interrupção e termina por invadir todo o sistema de ritos”.

Ao considerar a prece como sendo “parte integrante de um ritual”, Mauss a define como uma “Instituição Social”, cujo estudo deve ser orientado pelo método sociológico de Durkheim, considerando-a como um fato social com características próprias. Apesar de toda a influência do durkheimiana no seu trabalho, Mauus vai mais além e redefine o método sociológico durkheimiano e o chama de “Fato Social Total, onde, segundo ele só se consegue entender o social se analisarmos em conjunto com as outras esferas da sociedade.

Mauss resume sua metodologia em três etapas: definição, observação e explicação. É preciso primeiramente definir o objeto de estudo, ponto inicial de qualquer pesquisa, a partir daí é que iremos conhecer quais são as possibilidades de estudo que temos. Assim ao ser definido o que se vai estudar, deve-se considerar todas as propriedades inerentes a tal fato. Trata-se basicamente de delimitar o objeto de estudo.


O propósito de Mauss é estabelecer um espaço compreensivo, pois até então o que se tem são noções confusas e vagas sobre o objeto a ser estudado. É importante que o pesquisador deve se privar de utilizar conceitos subjetivos, pois para o autor, é na própria sociedade que devemos encontrar a função da prece.

Ao tratar do método de observação, neste campo ele define dois conceitos que os denomina de “crítica externa” e “crítica interna”. A primeira tende a se preocupar com as datas, fontes, o método que foi utilizado, características científicas de quem escreveu o documento e etc . Trata-se do “coeficiente de erros”. Enquanto que a segunda vem sempre junta a crítica externa, e tem como objetivo situar o fato no seu meio, decompodo-o em seus elementos, ou seja, “situar o fato em si”. Determina-se a data do documento e a partir daí será elaborada uma análise do período histórico, do estágio de evolução e da característica que possui o fato.


Depois de definir os fatos e fazer as observações necessárias é preciso explicá-los. Para Mauss existe a “explicação esquemática” que partiria do gênero até chegar as espécies. Para isto seria necessário reunir um numero de caracter que fosse suficiente para formar uma noção genérica de um fenômeno, depois aplicaria essas noções em diferentes causas pára saber “em função de qual instituição deve variar”. Nesta explicação existe uma hierarquia, porém os gêneros e as espécies são retirados de qualquer tempo e espaço, ou seja, são tidos como dados num mesmo momento lógico. O segundo tipo de explicação é chamado de “explicação genética”, e assim como na primeira, esta segue u7ma hierarquia, só que vista cronologicamente. Segundo o autor, estudar a evolução de uma instituição ao longo do tempo seria bem mais fácil, do que a primeira explicação. Pois só com o estudo de “sucessão histórica das formas”, é que chegaremos a uma explicação coerente da prece.

Depois da explicação do método, o autor nos fornece informações sobre a prece. Ao considerar a prece como um rito religioso Mauss faz as seguintes informações sobre o rito; que os são atos, realizados de forma tradicionais, ou seja, adotado por uma coletividade ou por alguma personalidade reconhecida. O rito também se confunde com o costume, e o que pode ser rito aqui, as vezes é tomado como costume em outro lugar. Ele quase sempre exerce coerção sobre os indivíduos obrigando-os a adotarem para si e utilizá-los que a etiqueta mandar. Para Mauss existem ritos que se tornam eficazes se utilizados em épocas e de formas diferente; É o caso dos ritos agrários.
Existem os ritos mágicos, esses “bastam a si mesmos” e são ações que os mágicos fazem, estes estão relacionados aos fenômenos da natureza e geralmente são invocados espíritos tal ação. Existe ainda um segundo tipo de rito, que contém a intervenção de poderes sagrados ou religiosos. Esses poderes são em alguns casos, mais poderosos que os próprios ritos e se diferenciam de outros ritos por serem eficazes por intermédio de entidades religiosas. Desta forma, o rito pode ser definido como “atos tradicionais eficazes que se relacionam com as coisas consideradas sagradas”. Neste caso, Mauss nos direciona a olhar a prece como um rito religioso, pois possui as mesmas propriedades e a mesma eficácia que um rito religioso


sábado, 18 de setembro de 2010

O adventismo no Brasil



No fim do império a início da primeira república estabeleceram-se núcleos adventistas em várias regiões do Brasil. Inicialmente, com chegada de exemplares (A Voz da Verdade) através do porto do Itajaí para alemães de Brusque. Os periódicos editados tornaram inúmeras famílias interessadas nas doutrinas em Santa Catarina, sendo efetuados maiores contatos por correspondências com editoras e a Sociedade Internacional de Tratados dos Estados Unidos, que passaram a enviar novas publicações.

Os primeiros periódicos foram enviados ao Senhor Carlos Dreefke, um alemão protestante da igreja luterana. Logo a mensagem é disseminada conquistando muitos daqueles que escutavam as leituras e também dos que liam. Nos escritos se achavam informações sobre doenças, drogas e principalmente advertiam o povo através de informes bíblicos anunciando a segunda vinda do senhor. Daí em diante, através das leituras surge na cidade de Itajaí Mirim o primeiro grupo de adventistas, incumbidos de transmitirem a palavra de Deus e advertirem as pessoas, pois “fim do mundo” estava próximo. O Senhor iria voltar e anunciavam tudo isto por via das escrituras sagradas.

“A mensagem propagou-se inicialmente entre os imigrantes alemães e o primeiro núcleo de adventista surgiu neste país em decorrência da leitura dessas publicações”. O senhor Guilherme Berz é o primeiro a iniciar a guarda do sábado, considerado o dia do Senhor nas sagradas escrituras. Este ao ler um folheto sobre o livro de Daniel, escrito por Urias Smith, por curiosidade e em busca de conhecimento sobre a verdade, Guilherme Berz toma a iniciativa de comprar um livro do autor que tratava dos mesmos assuntos que havia no folheto. “O Comentário Sobre o Livro de Daniel, de Uriah Smith, também estava escrito em alemão”. Ao tentar pegá-lo da estante, Guilherme derrubou-o no chão. O livro se abriu justamente no capítulo intitulado: “O Papado Muda o Dia de Repouso”.

A partir de então inicia a guarda do sábado, juntamente com a sua família. Não muito posterior a este fato, um grupo de vinte e duas pessoas compostas pelas famílias de Olm, Look e Thrum, a exemplo de Berz dão seguimento a guarda do sábado, onde está escrito na bíblia desde o fundamento do mundo pela palavra que saiu da própria boca de Deus. Este pequeno grupo passou a fazer reuniões e discutir as leituras bíblicas, porém muito deles sofreram perseguições por parte dos protestantes luteranos que foram os primeiros a espalhar a mensagem de Deus. Com isto mudaram para a cidade de Gaspar Alto, no Rio Grande do Sul onde fundaram a primeira congregação.

“Pouco depois, na Vila de Brusque, as famílias Look e Thrun também começaram a se reunir aos sábados para realizar seus cultos. Entretanto, a perseguição dos luteranos e de descrentes os forçaria a mudar-se para Gaspar Alto, em busca de paz. Em certa ocasião, enquanto realizavam o culto do pôr-do-sol, algumas pessoas começaram a jogar pedras e ovos podres na casa. Nas ruas, os adventistas eram vistos como “pessoas estranhas”, membros de uma “nova seita misteriosa”.
[1]

A primeira congregação foi organizada em 1896 em Gaspar Alto. Neste ano existiam no país cinco grupos adventistas efetuando reuniões periódicas, que logo mais tarde a mensagem adventista chega a outros estados brasileiros, inclusive ao Ceará, onde muitos missionários sofreram inúmeras perseguições por conta do estado cearense dispor de um número significativos de católicos.

Já haviam missionários vindos da Alemanha que vieram ao Ceará em meio a muitas missões para pregarem a palavra santa especificamente em busca de resgatar almas para Deus e difundir a verdadeira religião que tem por princípio fundamental adorar um único senhor e salvador. faziam parte em sua maioria do “protestanismo de salvação”, que vieram em missão por todo o Brasil.

Os protestantes em solo cearense encontraram enorme dificuldades, vistos que não falavam a mesma língua, saiam a levar a verdade à lugar quase intransponíveis, levavam chuva, sol, caminhavam por estradas desérticas cheias de terras e pedras, desbravavam matas e etc, além das persecuções que sofriam: açoites, difamações através de jornais, interrupções de seus cultos, onde açoitavam pedras, fezes e etc. Eram chamados de filhos do demônio e os padres ainda alimentavam os açoites e insultos que sofriam. Além de assaltos, chantagens, calúnias e outras agressões.

“A rejeição aos missionários, entretanto, nem sempre se fez por meios pacíficos [...] em alguns momentos a violência física deu o tom das ações dos opositores do trabalho missionário presbiteriano em Fortaleza, em que em pelo ou menos três ocasião atacaram a pedrada, a sede da missão e os primeiros missionários. (SOUZA, 2006. p. 133)

Os missionários adventistas adentrando ao Ceará muito posterior aos presbiterianos, chegaram com intuito de espalhar a palavra de Deus através do trabalho de colportagem, vendendo livros e distribuindo folhetos sobre vários outros assuntos que interessavam a comunidade e especificamente as palavras bíblicas, que continha a base de toda a doutrina adventista. Logo depois vários missionários vieram para Fortaleza iniciando uma série de conferências que tratavam de advertir a comunidade sobre doenças, drogas, faziam a leitura e explicação da palavra e etc. Logo os frutos dessas conferências, brotaram alimentando a fé de todo aquele que buscava viver uma vida de paz e de comunhão junto a Deus. Não demora muito e é fundada várias igrejas adventistas no estado cearense.
[1] Encontrado no site: http://adventismo.blogstop.com/2006/01/capitulo-2-o-avanço-da-mensagem.htm. Chegada do Adventismo no Brasil, BORGES, Michelson. Tatuí – São Paulo: Casa Publicadora Brasileira, 2000.

domingo, 4 de julho de 2010

BILHETES VOTIVOS

PRÁTICA VOTIVA: UMA ANÁLISE SOBRE OS OBJETOS E BILHETES VOTIVOS EM JUAZEIRO DO NORTE - CE

Ana Cássia Félix de Sousa (Graduada em História pela Universidade Regional do Cariri – URCA)
Dra. Anna Christina Farias de Carvalho (Professora Adjunta da Universidade Regional do Cariri – URCA)


No nordeste brasileiro de forma bem particular as devoções ganham relevo, sobretudo por se tratar de um território marcado pelas vicissitudes de tempos precários, onde o sofrimento é visto em cada canto da geografia local. O trabalho em questão objetiva fazer uma análise sobre a prática votiva na Cidade de Juazeiro do Norte - Ce sobremodo nas ressignificações dos artefatos e bilhetes votivos que compõe a Casa dos Milagres Padre Cícero. As práticas votivas deixam seus rastros sobremaneira nos rincões dos sertões nordestinos – pois é muito comum se ver que quando se visita santuários, Igrejas ou locais de peregrinações se constata este acervo artesanal exposto nos locais sacros como forma de ligação íntima ou parceria com o santo de devoção. O povo simples com sua sabedoria popular, massacrado pelas injustiças sociais e não tendo condições financeiras para se recorrer aos tratamentos de saúde sofisticados, buscam nos rituais votivos as curas desejadas para a vida pessoal e familiar. Estas formas votivas se encontram expressas em cartas, onde os fiéis afirmam que conseguiram o beneplácito do santo quando buscou dele uma graça incapaz de ser conquistada por intermédio da sofisticação médica. Os ex-votos da casa dos milagres Pe Cícero são demonstrações evidentes de crença na intervenção soteriológica que se faz presente na fé e na religiosidade de um povo. Sendo assim, o estudo que ora foi elaborado, revela a importância da prática votiva no Cariri cearense, e as respectivas ressignificações contida nos ex-votos e mensagens votivas expostos na Casa dos Milagres Padre Cícero em Juazeiro do Norte.

Palavras-chave: Prátivca votiva, religiosidade popular, bilhetes votivos

A fé do povo brasileiro se expressa de diversas formas e significados. E quando se constata as manifestações populares compreende-se o quanto é valioso o conteúdo simples destas formas religiosas, pois são manifestadas inúmeras vezes sem os critérios institucionais de linhagem católica, contudo eivada de significado sacramental para as camadas populares. No nordeste brasileiro de forma bem particular as devoções ganham relevo, sobretudo por se tratar de um território marcado pelas vicissitudes de tempos precários, onde o sofrimento é visto em cada canto da geografia local, por se tratar de um reduto vilipendiado pelas secas constantes. Além da gana de ritos populares, como novenas, renovações, rezas típicas das legendárias benzedeiras entre outras se destaca como manifestação distinta e curiosa a confecção dos ex-votos.
Esta gente simples se apega de forma intrépida ao sagrado. Existe neste parâmetro uma fé sem reservas na manifestação sagrada - em um Deus que de tão próximo atende concretamente a interpelação feita piamente - aliás, existe uma negociação sutil entre o Deus e o devoto necessitado da graça. Esta permuta se traduz de maneira real na promessa executada criteriosamente por intermédio de feitos propostos pelo fiel e quando do milagre concretizado ou mesmo precedendo a esperada cura se faz urgente cumprir sem restrições o contrato oficializado. Este ritual faz parte da panacéia religiosa de nosso povo, que às vezes foge da linhagem canônica – contudo não perde os laços católicos tão enraizados na formação cultural popular.
O propósito deste estudo se fixa neste reduto de manifestações religiosas – todavia tendo como foco a prática piedosa dos ex-votos. É bastante curioso como este formato devoto se expressa. E cada fiel, carente de graça exclusiva de Deus, manifesta para o sagrado aquilo que precisa por intermédio de feitos concretos como a cópia esculpida em madeira ou fotografias de alguma parte do corpo mutilada por algum acontecimento inesperado, como também outros meios que comprovam um fato divino manifesto em favor de uma pessoa ou de um grupo social específico.

“São considerados ex-votos todos os objetos ofertados aos santos como forma de agradecimento por um milagre alcançado. Entre os ex-votos, destacam-se as réplicas das partes do corpo humano e os ex-votos desenhados ou pintados”. ( Abreu, 2001. IV.)

Estas práticas votivas deixam seus rastros sobremaneira nos rincões dos sertões nordestinos – pois é muito comum se ver que quando se visita santuários, Igrejas ou locais de peregrinações se constata este acervo artesanal exposto nos locais sacros como forma de ligação íntima ou parceria com o santo de devoção. O povo simples com sua sabedoria popular, massacrado pelas injustiças sociais e não tendo condições financeiras para se recorrer aos tratamentos de saúde sofisticados, buscam nos rituais votivos as curas desejadas para a vida pessoal e familiar. Entra neste caso uma fé ingênua, muitas vezes marcada por crenças inventadas pela tradição popular, que foge ao controle eclesial, mas que na prática atinge a satisfação existencial do povo. É claro, que em tempos recentes estas práticas ainda estão em voga – todavia com menor índice de procura – embora o povo ainda guarde e cultive a tradição dos antepassados e segue as admoestações dos grandes homens considerados santos pela massa como: Pe Cícero, Frei Ibiapina, Antônio Conselheiro, e tantos outros beatos que influenciaram deveras a memória religiosa dessa gente sofrida.
Nestas circunstâncias entra em voga a peregrinação feita aos locais sagrados, que na sua essência tornou-se sacramental não por conta própria – mas pela ação extraordinária de uma figura secular no sentido religioso que tanto bem fez para o povo e ganhou socialmente o cognome de santo – capaz de cumprir com os pedidos feitos pelos seus seguidores.
A tradição votiva remonta a antiguidade clássica em tempos em que se prestava culto aos deuses do paganismo. Os ex-votos eram expostos não somente em formatos de partes do corpo humano, mas das mais variadas fisionomias. Assim relata Abreu citando Bluteau)
“Costumam os romanos pendurar as suas fabulosas deidades, uns fragmentos de tábuas dos navios que tinham escapado do naufrágio, em que se via pintada a mercê, que imaginavam ter recebido por intercessão do nome, ao qual tinham encomendado” (Ib. 20001 p. 18)

Os ex-votos servem de suporte imprescindível para a apresentação de pedidos feitos pelos povos de todas as culturas para proteger suas castas dos males oriundos de forças sobrenaturais. Estas manifestações seguem fórmulas típicas de cada cultura. Prova disso é que nos templos do Egito, Síria, Grécia e Roma de acordo com suas crenças faziam-se suas manifestações ritualísticas em busca de favores das divindades. A prática dos ex votos era comum entre os pagãos – contudo esta atitude religiosa de conexão com o sagrado foi absorvida e efetivada pelos cristãos em meados do séc. IV, sendo difundido nos séculos posteriores como um jeito específico de se constatar a manifestação efetiva de Deus por intermédio do milagre. “Sob certo ponto de vista, eles podem ser considerados o lugar do encontro de culturas e tradições diversas, onde se cruzam elementos pagãos, folclóricos e cristãos” (id. P. 19).
No contexto histórico da Idade Média mais precisamente, os ex-votos eram manifestos por intermédio da peregrinação aos lugares sagrados. A devoção se efetivava na prática votiva remetida ao santo de um determinado lugar que neste caso era um reduto sagrado, onde se trazia o dote prometido em virtude da cura de males físicos, ou de qualquer graça alcançada pela interseção do santo patrono. Muitos templos sagrados foram erguidos neste período pela intervenção de graças concedidas a “nobres fiéis” que tendo conquistado a benevolência do santo benfeitor erigira sem reservas o templo santo que a partir de então se tornara recinto de peregrinação para muitos peregrinos que tomaram conhecimento da realidade milagrosa ali efetuada.

“Fazer um voto significava também fazer uma peregrinação (...) a peregrinação parte sempre de um voto que se vai cumprir de uma promessa que se vai pagar; por isso, o romeiro sempre haverá de levar ao santo de devoção o seu donativo” (id. P. 20-1).

Com o surgimento destes locais de encontro de romarias e a difusão de milagres conseguidos pelos devotos – a Igreja tendo como particularidade sua cúpula posiciona-se com relativa reserva aos cultos desenvolvidos pelos grupos sociais nos citados santuários. A instituição sente que algumas manifestações fogem aos critérios canônicos e deixam certo rastro de profanação não sendo aceito por uma religião conceituada como oficial. Contudo, as práticas votivas ali disseminadas tinham o seu desfecho com donativos favoráveis à instituição, pois além da presença de aristocratas com seus recursos financeiros tinham os que compunham a plebe os quais ofereciam sua força de trabalho para a construção e consolidação dos referidos santuários e igrejas, possibilitando a instituição solidificar ainda mais seu patrimônio tanto espiritual quanto material. Os ex-votos nestas circunstâncias não deixam de ser favoráveis à instituição. Carece apenas de um trabalho pastoral no que toca aquilo que pode fugir aos padrões puramente canônicos. E neste caso a vanguarda católica agia de forma “diplomática” para não deixar que a fé do povo fosse sufocada, tampouco extirpada – mas resignificada de acordo com as prescrições eclesiásticas vigentes.
Com o curso da história o povo não prescinde de sua experiência de fé. A Igreja como paradigma de salvação não consegue atender pastoralmente a todos os rincões da sociedade em processo acintoso de crescimento – até mesmo por que a quantidade de presbíteros era muito restrita ao percentual demográfico que se proliferou a partir do séc. XVIII. O povo no seu jeito próprio de se expressar cria para si rituais “sacros” que se tornam características como manifestações sacramentais de fé. Os ex-votos se incluem neste acervo memorativo de atender as diversas penúrias do povo – sendo um dado concreto de que o sofrimento está presente e que a esperança na intervenção divina é sempre uma saída para as intempéries da triste desdita de algumas pessoas.
No Brasil de forma particular os santuários ganham relevo como demanda das massas em busca de pródiga benevolência do sagrado, sobretudo utilizando-se da representação visível de formas artísticas que traduzem o sentimento de fé para o retorno imediato por intermédio da promessa feita e do milagre materializado. As procissões aos lugares santos deixam entrever o sentimento religioso personificado na fisionomia de devotos que não encontram obstáculos para manifestar a crença na intervenção do santo, segundo as necessidades pessoais. A promessa neste caso tem que ser paga, cumprida a qualquer custo, pois do contrario a parceria se desfaz, e o santo sente-se traído e não arca com o contrato na circunstância da promessa.

Visto como os grandes intermediários entre este mundo e o sobrenatural, os santos eram – e continuam sendo – intercessores que, na visão popular, podem ser bons, generosos e exemplares, mas também vingativos. A intimidade com os santos faz com que a adulação através da oferta de velas, flores, adornos, rezas, e etc., um comportamento recorrentes, assim como as ameaças e castigos que podem chegar as raias da iconoclastia e do sacrilégio, pois os santos podem ser judiados por não atenderem os pedidos dos devotos, revelando um toma-lá-dá-cá religioso que permeia a economia das trocas espirituais. (P. VAINFAS e SOUSA, op. Cit., p. 34-5)

O imaginário popular da geografia nordestina é rico na preponderância de ritos considerados não institucionais que traduzem certas formas de se presenciar a manifestação do sagrado manifestos nos momentos celebrativos. No caso das promessas era muito comum em tempos remotos, no interior do Ceará, sobremodo em Juazeiro do Norte pela intervenção do Pe Cícero - pois sempre que se tinha um membro da família com algum tipo de doença aparentemente incurável - a família se apegava ao santo de devoção e fazia-lhe um “contrato sagrado” que se a pessoa enferma ficasse curada se faria algum tipo de sacrifício como recompensa pela graça alcançada. É muito comum em tempos atuais – e ainda com muita freqüência nas localidades mais recônditas de nosso Cariri, o povo sempre possuir uma vestimenta preta que correntemente é utilizada nos dias 20 de cada mês. Este ato devoto é uma alusão ao aniversario de morte do Pe Cícero – comprovando a fidelidade do fiel ao taumaturgo do Nordeste que mesmo não tendo a honra dos altares por não ser canonizado pela Igreja Católica é considerado santo no imaginário popular.
Prova disso, é que a peregrinação de romeiros de toda a parte do país e de forma particular do Nordeste para Juazeiro do “Meu Padim” é algo freqüente durante todo ano. Nos períodos fortes de romarias a cidade fica repleta de gente desde o mais pobre ao mais abastado, tornando-se até mesmo uma forma de se homogeneizar as classes sociais ali inclusas. As igrejas e os santuários ficam cheios de peregrinos e os recintos sagrados são visitados e servem de alentos para os suplícios desta gente que acorre a intervenção do “santo padre”. A chegada a “cidade santa” não é algo de fácil acesso, sobremodo por que eles fazem por intermédio de caminhões cobertos de lonas e os bancos artesanalmente produzidos de madeiras ganhando assim tonalidade característica do peregrino que, no “pau de arara” chega a terra da “mãe de Deus” com fé intrépida que supera as intempéries da viagem cheia muitas vezes de privações.
Na casa dos milagres encontra-se as mais diversas manifestações de crenças na intervenção poderosa do Pe Cícero. É comum encontrar partes do corpo confeccionado de forma artística, e depositada neste local, traduzindo a crença popular na força eficácia do santo procurado. É natural perceber que estas formas artesanais de demonstrar a inclinação sacramental do povo têm todo um ritual anterior que começou no ato da promessa – por intermédio de uma experiência particular de sofrimento, onde a cura aconteceu e que de forma inexplicável o pedido foi atendido - a esperança se tornou fato, por isso a apresentação das peças confeccionadas e depositadas no local legitimado como santo. O peregrino estende a mão em sinal de súplica, reza sua orações e repete as milagrosas jaculatórias e incontidamente deposita o sinal de seu reconhecimento, rafiticando o fato da intervenção sagrada no momento de insuportáveis agruras do cotidiano. Aqueles objetos têm uma relevância sobrecomum para cada fiel que traz como relíquia o sinal irretocável de fé na ação do padre milagreiro.

“Porém, muito mais que a imagem sacra, é antes de tudo um testemunho individual do encontro com o sagrado. Tanto ao personagem sagrado e agente do milagre quanto ao beneficiário deste ou simplesmente da interseção coexistem nele, cada qual em seu lugar dentro do quadro expressa o seu encontro” (Vovelle 1997. P. 117).

Os ex-votos retratam a sintonia simples da crença popular com o mistério. Prova disso, é que aquele povo peregrino traz o sinal empírico do milagre acontecido em sua história. Não foi algo propositadamente planejado. Foi um fato verídico que de acordo com o imaginário popular aconteceu – e que a fé sertaneja traduz como manifestação inequívoca da ação milagrosa do santo protetor. No momento em que o fiel deposita no recinto sagrado o material confeccionado existe ali a concretização de uma cura milagrosa onde a enfermidade foi arrancada e jogada fora, pois nos próprios objetos são inscritos o nome da doença a qual foi curada e que agora o devoto restabelecido cumpre sua promessa e pede graças para não ser acometido daquela enfermidade novamente.

sábado, 15 de maio de 2010

PÓS-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIAS DAS RELIGIÕES

A Coordenação do Curso de Pós-Graduação em CIÊNCIAS DAS RELIGIÕES, comunica aos interessados que as inscrições serão encerradas no dia 28 de maio do corrente ano. A referida Especialização atende todo o público de graduados em cursos de licenciatura ou bacharelados reconhecidos pelo MEC.

O valor da inscrição: R$ 50.00 (cinquenta reais) e 17 parcelas no valor de R$ 150.00 (cento e cinquenta reais), com carga horária de 420h/a.

Maiores informações ligar para (88)9621.1742 / (88)9202.9401 / (88)88079838 ou dirigir-se a URCA -CAMPUS PIMENTA- CRATO, no horária da manhã e tarde.

sábado, 1 de maio de 2010

RELIGIÃO E POLÍTICA NA FRONTEIRA (BURITI)

Religião e Política na Fronteira: desinstitucionalização e deslocamento numa relação historicamente polêmica
“A religião está de volta”? muitos estudiosos tem discutido ao longo do tempo este retorno do sagrado, que logo auto-reafirma que houve um declínio dos sentimentos e das instituições religiosas tendo suas causas aos critérios do respeito a modernidade tais como o crescimento urbano, individualismo e os discursos críticos e pós-modenros nos anos 70 e 80, onde muitos acreditam que a religião ou os sentimentos religiosos de forma gradativa venha sofrendo erosão so longo do tempo. mas Burity deixa claro que há outros aspectos que poderia dar-se ais relevância neste momento, especialmente no campo político que se expande como: economia, cultura, religião que intervém sobretudo na vida privada do indivíduo.
O ponto de foco deste estudo se dirige sobretudo a religião e a política. Neste caso Burity tenta destacar a função de cada um destes pontos. Houve uma separação entre igreja e estado, isto é fato. Mas está a religião subordinada aos ditames políticos sem intervir nas suas ações ou vice-versa? Para se chegar a uma entendimento o autor cita a existência de uma epísteme liberal que vai atuar, sobretudo no campo político os assuntos e convenções religiosos que estavam voltados para a vida privada onde tinha uma maior preocupação com as questões valores ligadas a liverdad3e, decisões e ações de caráter publico. A neutralidade de estado no que se refere ao espaço público, uma vez que a religião ou as instituições religiosas iram proteger o estado, de certa forma haveria um “vínculo” entre estes a maneira que o Estado precisa da ação da religião para intervir na vida pública. E por último a separação entre igreja e Estado no que diz respeito ao poder institucional de ambos. Estado e Igreja poderiam agir independentes sem intervenções. Todas estas questões eram propostas pro esta episteme liberam, mas que não teve êxito com o passar do tempo.
Surtos religiosos fora do comum nos anos 70 e 80, de certa forma a Igreja e a política vi perder um pouco do poder que exerciam na vida privada. Desta forma o autor vi falar de um deslocamento de fronteiras ou redescriçao de práticas. A religião neste momento irá sofrer grandes impactos uma vez que os surtos e fenômenos religiosos que eclodem nas décadas de 70 e 80 trarão novas perspectivas aos seus adeptos, verão os aspectos religiosos com uma nova ótica como sendo fruto de um aprofundamento Ada experiência religiosa como algo pessoal, individual, intruso. Segundo o autor estariam acontecendo uma desperimvitazaçao da religião o que seria mais interessante estudar uma vez que esta prática pessoal segundo diz age como “força social e política”.
O autor deixa claro que na verdade hão houve um declínio da religião o que houve na verdade no processo de todos estes anos que se deu início a modernidade é que a religião esteve mais preocupada em atuar no campo privado, deixando claro o seu papel como instituição religiosa. Agora ela passa a ter uma ação importante na esfera pública voltada especificamente para as experiências pessoais do indivíduo, o que deu novo rumo a religião e as questões religiosas e não “um reavivamento da adesão religiosa que teria desaparecido e regressaria a esfera da cultura” e as questões religiosas e não “ reavivamento da adesão religiosa”que teria desaparecido e regressaria a esfera da cultura.
Retornando a relação igreja e política, para o autor este vinculo foi historicamente construído em todos os processos e períodos históricos da Antiguidade a idade Média, da Modernidade a contemporaneidade, sempre existiu o vínculo entre Igreja e Estado. Prém o que o autor propõe neste trabalho, não é explicar que existiu ou existe esta relação entre ambas as instituições, mas explicitar se ainda continuam em voga as três linhas normativas conceituais da episteme liberal, as quais vimos inicialmente. Neste caso o autor nota que há um enfraquecimento deste modelo liberal, dando mais abertura a relação do político ao religioso que poderá até confundi-los, pois, segundo Burity “estes dois processos estão permanentemente em via de se transformar um no outro”.
A questão de que este vínculo entre ambas as instituições estão presentes ao longo do tempo nos períodos historicamente colocados, e que na contemporaneidade, esta se faz plausível e nega de certa forma “a idéia de desaparecimento ou “privatização do religioso”. Neste caso o autor vai falar de uma redefini8ção dessas relações, que, devido as transformações históricas, a fronteira que havia entre o público e o privado vem sendo desconstruída, Mas segundo o autor, isto não quer dizer que, esta construção possa condicionar setores, “vindo um ou outro predominar eventualmente”. Porém o autor deixa claro que não houve um aniquilamento destas fronteiras, nem tampouco o público tenha atuação superior que o privado ou, vice versa.. O autor na verdade define a mudança dessa relação como um deslocamento, onde os setores públicos e privados passaram a se confundir de cerrta forma, passando assim o público a atuar no privado, quanto o privado no público, tanto no discerne a política, quanto a religião.
Porém, estas mudanças não podem ser consideradas como um “passo a frente”. A religião e a política, ou as questões privadas e públicas, não ocuparão uma só posição, como se fossem uma só instituição. Haverá grandes diferenças no tocante da manutenção do status religioso e político. Haverá um setor dominante, que consequentemente exercerá mais poder. Neste caso, haverá uma mudança na “definição do que seja Estado e religião, uma vez que “os limites do político extrapola o estado”, não haverá neste caso a neutralidade, um dos conceitos da epsteme liberal, e haverá uma “desinstitucionalização da religião” conseqüência dos movimentos religiosos, que vai está emergindo neste período, com força intensa, especificamente os surtos religiosos latino- americanos.
E por fim, em meio a toda esta discussão o autor finaliza afirmando que a política e a religião são indissociáveis. Para este resultado Burity propõe uma volta ao passado no que discerne uma revisitação a tradição e ver que estas relações e vínculos sempre existiram. O autor afirma então, que nunca houve um desencatamento ou uma volta do sagrado, pois este sempre esteve vivo na vida das pessoas em todos os períodos históricos e na contemporaneidade, devido aos surtos religiosos que foram emergindo, esta se tornam ainda mais viva, não que o mundo esteja se reencantando, na verdade ele nunca perdeu este encantamento.

sábado, 13 de março de 2010

PADRE CÍCERO & "PADIM CIÇO": O HOMEM, O SANTO, UM MITO.

No dia 20 de julho de 1934 na progressiva cidade de Juazeiro do Norte morre Pe. Cícero Romão Batista. Sua práxis religiosa ultrapassou as fronteiras geográficas do cariri. Em todo o país seu nome é citado, em algumas circunstâncias de maneira controvertida, em outras, cultuada e de forma especial mitificado em toda região do Nordeste brasileiro.
Quem conhece, não fica indiferente ao “fenômeno de Juazeiro” do Norte. Meu “padim” assim cognominado devotamente pelos seus romeiros era sempre reverenciado e acorrido, sobretudo nos períodos de agruras do sertão nordestino, marcado por secas prolongadas, estes devotos viam em seus conselhos soluções evidentes para atenuar a pobreza que rondava o chão seco do nordeste. “Pe. Cícero já estava há apenas cinco anos no Joaseiro quando sobreveio a terrível seca de 1877-1880 que devastou o Ceará e o Nordeste do semi-árido. [sic] A grande seca [sic] foi marcante na vida do Pe. Cícero, como padre de um povoado que chegou quase ser dizimado.”(BEOZZO. 2004).
Ao ser enviado para aquele vilarejo com o propósito de evangelizar. O recém ordenado Padre Cícero jamais imaginaria que seria o protagonista de mudanças significativas na história do cariri e que sua figura fosse transformada em paradigma de santidade e principalmente líder político e religioso da história cearense. O que realmente consta nos anais da história cearense, sobre a prática caritativa do padre Cícero é seu acolhimento a todo e qualquer retirante que marcado pelo sofrimento do clima semi-árido, vinha a juazeiro em busca de socorro para a situação cruenta a qual passava sua família e toda a gente local. Dessa forma o jornalista Xico Sá descreve “Levas e levas de miseráveis corriam para o Juazeiro, arrastados pela fé e pelo assistencialismo religioso do sacerdote.”
Nestas circunstâncias, este presbítero tinha uma sabedoria incomum – encaminhava muita gente parar terras férteis do sertão, para viver da agricultura e de outros meios de subsistência. Ele era conhecedor da geografia da região do cariri e tendo um carisma inconteste, conseguia atrair até Juazeiro a demanda de gente não somente pobre, mas também a admiração de muitos célebres senhores de terras que atentos a petição do devotado presbítero davam guarida em troca de trabalhos agrícolas para muitos retirantes que vinham de outros “rincões” do nordeste, fugindo da seca. Ele sabia que muitas localidades do cariri eram férteis e por intermédio de uma quadra invernosa abundante daria para agregar a casta sertaneja que disposta ao trabalho agrícola, proporcionava o desenvolvimento do vilarejo que sobre a figura eminente do Padre ganhava proporções urbanas.
Um exemplo, muito bem visto que comprova este fato é que o Padre Cícero, havia alugado o Sitio Baixa Dantas - o qual era liderado pelo "beato Zé Lourenço” - para que as pessoas dizimadas pela seca cruel que assolou sobretudo o sertão sul do Ceará pudessem encontrar amparo. Este lugar também servia para assistencializar uma massa muito grande de pessoas advindas de todo o Nordeste que passavam fome, sobremodo devido os efeitos causados pela escassez de chuvas.
Sendo assim, as levas de miseráveis que compunham as vicissitudes do sertão nordestino, encontrava naquele lugar um refúgio - pois sendo este muito bem cuidado pelo beato, amigo do Padre Cícero e tendo estabelecido um modelo de trabalho comunal, tudo o que ali se produzia era de igual modo dividido entre todos. Vivendo todos mantidos por uma economia de subsistência e que qualquer pessoa que ali chegasse era enviada pelo padre a esta pequena comunidade que se tornara um “modelo de sociedade comunal” tendo como base o trabalho comunitário. “Cabia ao beato receber, naquele pedaço de terra arrendada, os desvalidos dos desvalidos, os molambudos, os mais “lascados”, como se diz na língua da região, os sem jeito. Olhos arregalados, um povo só olhos, cacimbas d’alma.”(Ib. Idem.).
Juazeiro cresceu vertiginosamente tendo como suporte a figura emblemática do Pe Cícero. E suplantou em estatísticas demográficas cidades tradicionais como Crato, Barbalha e Missão Velha. Era comum a procura de conselhos por parte dos chefes das famílias que viam naquele homem um “oráculo divino” que profetizava fatos que porventura a própria natureza seguia fielmente seus desígnios. Era compreendido ainda em sua vida terrena como um “ente divino” para todo e qualquer sertanejo.
As peregrinações para Juazeiro tiveram sua gênese com o padre ainda vivo e no exercício de seu polêmico ministério sacerdotal. Ele era um exímio conselheiro e de forma especial muito próximo dos sertanejos que viam nele uma solução imediata para os problemas tanto físicos quanto sociais. A cúpula eclesiástica ainda fincada suas raízes num sistema imperialista falido – não ultrapassava as fronteiras dos púlpitos eclesiais. Por isso, que com atitude diferenciada, muito próxima ao sofrimento desta gente, o padre de Juazeiro foi ganhando a confiança e devoção da massa popular – sobretudo a mais sofrida e consequentemente sendo divulgado como alguém que de tão raro nos meios eclesiásticos – se tornou divino.
É comum se ouvir histórias fruto da oralidade popular acerca dos feitos extraordinários do Padre Cícero. Muita gente de naturalidade carirense – principalmente os mais velhos que tiveram contato com algum parente ou mesmo que viram e ouviram as admoestações de meu “Padim” propagam seus prodígios com profunda continência subjetiva - pois sabem da significância religiosa que este presbítero tem para a vida da gente sertaneja.
O mais curioso é que Juazeiro do Norte cidade situada no sul do ceará se tornou sinônimo de santificação de almas, expiação de pecados e etc. Alguns teóricos afirmam que esta cidade erigida sobre as profecias do Pe Cícero é notoriamente a “nova Jerusalém”. Existe uma mística singular na “cidade santa” onde o Padre Cícero habitou e construiu igrejas e capelas. Quando ainda vivo foi sinônimo de patrimônio espiritual do povo simples – que movidos pela fé e agruras da vida buscavam o refrigério para as vicissitudes de vida cheias de privações.
Contudo, para a hierarquia eclesiástica ele era um transgressor das normas canônicas. Por isso, ele atraiu para si opositores de dentro da própria Igreja que munidos de alguns fatos supostamente milagrosos interpelaram até a Santa Sé para remeter-lhe a interdição de suas funções ministeriais. No caso do milagre da hóstia que quando tomada pelas mãos do próprio Padre Cícero, se tornou repentinamente e misteriosamente em sangue na boca da beata de nome Maria de Araújo, por ocasião da celebração preceitual de uma missa. Este fato foi o “estopim” para muitas represálias sobre a práxis ministerial do Padre Cícero.
Ele foi considerado pela Diocese do Ceará como embusteiro, utilitarista. Protagonista efetivo de supostos milagres para atrair a complacência do povo para si, por intermédio de uma fé ingênua e confrontá-lo com a Santa Madre Igreja.


“Pe. Antônio Alexandrino, como executor e ao mesmo tempo mentor da política episcopal para o Juazeiro, investido ademais da função de administrador da capela, é o responsável maior, junto a autoridade diocesana, pela imagem desfavorável do Pe. Cícero Escreve regularmente por quase dez anos seguidos, pelo menos a quase quinze dias, ao Prelado Diocesano, [sic]. A pretexto de qualquer assunto, teologia, pastoral, finanças, política, a imagem do Pe. Cícero é apresentada sob uma luz adversa. Custa ao padre Alexandrino reconhecer méritos, qualidades e principalmente virtudes no seu colega, submetidos a duras penas canônicas e contínuas calunias.” (BIOZZO. 2004, p. 38).


Mesmo com reservas declaradas da Igreja concernente ao controvertido acontecimento daquela celebração eucarística, a fé popular ao santo de Juazeiro proliferou em proporções consideráveis. Os interditos remetidos pela cúpula eclesial direcionadas ao Pe Cícero até contribuiu para a ramificação ainda mais efusiva de sua personalidade divina. Neste caso, as peregrinações a Juazeiro foram constantes. Gente de toda a parte do Nordeste deixava suas raízes e vinham com suas famílias, munidos da convicção de “fazer a vida” nas terras santas de Juazeiro. Sob a sombra do “Padim” ninguém tinha medo de enfrentar as agruras do cotidiano. Desta forma Biozzo faz a citação de uma carta destinada ao bispado do ceará remetida por Dom Joaquim que relata: “Antes de tudo, devo informar V. Excia. que a suspensão não produziu o efeito que V. Excia. esperava. Continuam as romarias em larga escala e o dinheiro que deixam no Juazeiro é incalculável. Os mesmos exagerados afirmam terem entrado naquele lugar dezenas de contos”.
O povo difundia seus feitos e despertava assim, a curiosidade popular. Neste parâmetro ele sempre era visitado por caravanas oriundas de outras localidades do Nordeste. E muitos presentes e donativos chegavam a sua casa e ele distribuía sempre com os mais carentes. Esta prática assistencialista e localizada fazia dele um “bem feitor” símbolo da caridade divina – sendo muitas vezes interpretado como enviado de Deus, alguém que transcendia a conceitos puramente humanos.
Ele com sua dedicação ao povo sofrido gradativamente no imaginário popular constituira-se na figura iminente de um “mito”. Até mesmo no tempo em que Juazeiro esteve envolvido com uma guerra deflagrada contra o Coronel Franco Rabelo – camponeses e jagunços de todos os recantos do Ceará deixavam suas famílias para se alistar para defender as terras do Padre Cícero das maquinações diabólicas do sórdido coronel. Com a vitória concretizada o Padre Cícero se tornou inconteste na mente do povo sua ligação com o alto, pois segundo os seus devotos ninguém podia fazer frente ou suplantar ao poder divino. Prova disso estava na façanha considerada mais um milagre da vitória bélica dos beatos do “Padim” contra a “besta do apocalipse” como era denominado o Coronel Franco Rabelo.

segunda-feira, 1 de março de 2010

RENOVAÇÃO AO SAGRADO CORAÇÃO DE JESUS


A DEVOÇÃO AO SAGRADO CORAÇÃO DE JESUS NO CARIRI


A devoção ao Sagrado Coração de Jesus se manifesta de forma concreta na Consagração que é feita por intermédio de um rito familiar. É um evento comum em muitas regiões do Brasil, mas de forma particular no sertão do cariri, em que o povo influenciado por Padre Cícero cultiva anualmente esta devoção. Não se trata de um evento fora dos padrões católicos, mas tem afirmação da própria jurisdição canônica.


A devoção ao Sagrado Coração de Jesus é uma das expressões mais difundidas da piedade eclesial, tal como refere recentemente o “Directório sobre a Piedade Popular e a Liturgia” da Congregação para o Culto Divino. Os Pontífices romanos têm salientado constantemente o sólido fundamento na Sagrada Escritura desta maravilhosa devoção.


A renovação se torna um evento que não precisa ser realizada com a presença do padre, pois o próprio povo se reúne em uma determinada casa e oficializa a celebração do rito, tendo como condutor uma pessoa da comunidade que já tem experiência para assim tirar a consagração. O povo em torno do quadro do Coração de Jesus participa e rende-lhes as devidas homenagens; repetem devotamente jaculatórias e cantam hinos alusivos que tornam concreta a fé inequívoca em Jesus ali entronizado. Esta e tantas outras manifestações religiosas típicas do povo campesino, feitas devido à fé popular, também porque desde tempos remotos a igreja não pode atender a demanda das regiões mais longícuas e por isso os ritos são celebrados sem a presença do sacerdote.
Segundo PAZ, 2004. p.12.


O pouco contato com as autoridades eclesiais era uma das características mais pronunciadas do catolicismo naquele período. numa perspectiva mais ampla, seguindo influências da tradição lusitana, o catolicismo no Brasil até meados do século XIX, tem como característica central a essência em atividades para litúrgicas de caráter devocional realizadas coletivamente, tais como festas, procissões, novenas, etc.


O ritual da Consagração tem sua história. Tem um conteúdo em forma de petição e principalmente ofertando a família e residência ao zelo do Bendito Coração de Jesus. O propósito é coloca-lo no lugar mais alto da casa, o qual é denominado de trono, de onde o mesmo pode exercer sua majestade, cobrindo de benefícios toda a família ali residente.


O Ato de Consagração ao Sagrado Coração de Jesus está assim configurado:


SAGRADO CORAÇÃO de Jesus, que manifestastes a Santa Margarida Maria o desejo de reinar sobre as famílias cristãs, nós vimos hoje proclamar vossa realeza absoluta sobre a nossa família. Queremos, de agora em diante, viver a vossa vida, queremos que floresçam, em nosso meio, as virtudes às quais prometestes, já neste mundo, a paz. Queremos banir para longe de nós o espírito mundano que amaldiçoastes. Vós reinareis em nossas inteligências pela simplicidade de nossa fé; em nossos corações pelo amor sem reservas de que estamos abrasados para convosco, e cuja chama entreteremos pela recepção freqüente de vossa divina Eucaristia. Dignai-Vos, Coração divino, presidir as nossas reuniões, abençoar as nossas empresas espirituais e temporais, afastar de nós as aflições, santificar as nossas alegrias, aliviar as nossas penas. Se, alguma vez, algum de nós tiver a infelicidade de Vos ofender, lembrai-Vos, ó Coração de Jesus, que sois bom e misericordioso para com o pecador arrependido. E quando soar a hora da separação, nós todos, os que partem e os que ficam, seremos submissos aos vossos eternos desígnios. Consolar-nos-emos com o pensamento de que há de vir um dia em que toda a família, reunida no Céu, poderá cantar para sempre a vossa glória e os vossos benefícios. Digne-se o Coração Imaculado de Maria, digne-se o glorioso Patriarca São José apresentar-Vos esta consagração e no-la lembrar todos os dias de nossa vida. Viva o Coração de Jesus, nosso Rei e nosso



Esta prática votiva, que acontece anualmente nas casas caririenses (citamos o cariri, traz em seu perfil cultural não apenas a simbologia do ato religioso – mas também pode ser observado fatores como: celebração de aniversário de núpcias; preservação do rito ao sagrado; culto a tradição dos antepassados; valorização dos costumes locais; elo comunitário; prosperidade para a comunidade.
Existe todo um ritual que precede esta festa comunitária; pois a própria família já se encarrega de preparar o ambiente. Primeiro a casa será reformada - feito uma faxina especial - onde todos os cômodos serão pintados, e principalmente o lugar especial onde está (ou será) fixado o quadro do Sagrado Coração de Jesus. Um detalhe curioso encontrado nas casas da região; logo as vésperas da renovação, a sala do santo onde será o lugar da cerimônia, ganha uma ornamentação singular. Ali se expõe uma mesa (denominada de mesa do santo) coberta com uma toalha comumente branca com bordados ao estilo característico do rito. Em muitas residências a parede principal que fica defronte a porta da entrada é pontilhada de quadros de Santos e santas, - contudo o quadro que está sobre o centro é dos ícones do Coração de Jesus e Maria.
A família convida toda a comunidade para a noite da consagração, para assistir a reza e tomar o tão histórico “café do santo”.


A devoção ao Sagrado Coração começou assim: no dia 16 de junho de 1675, durante uma exposição do Santíssimo Sacramento, Nosso Senhor apareceu a Santa Margarida Maria Alacoque e, descobrindo seu Coração, disse-lhe: “Eis o coração que tanto tem amado aos homens e em recompensa não recebe, da maior parte deles, senão ingratidões pelas irreverências e sacrilégios, friezas e desprezos que têm por mim neste Sacramento de Amor”


Os parentes que moram distante vêem para rever seus entes queridos, e durante o dia sentem-se felizes com o clima de festa que se gesta nos alpendres da residência. Existe também um jantar para os familiares - precedendo assim o grande momento - envolto de significados culturais.
Enfim, tudo converge para a pauta da solene celebração. Outro fator importante é que existe uma pessoa “eleita” pela comunidade para rezar as jaculatórias. Todos se reúnem no interior da sala do santo, sobretudo as mulheres que cantam hinos alusivos aos santos de sua devoção. Mesmo não adentrando ao interior da sala, os homens mantêm-se em silencio acompanhando a celebração. A forma de reverenciar o sagrado é algo que impressiona a quem não tem o mesmo costume da localidade. Os senhores mais tradicionais retiram seus chapéus, e se concentram nas ladainhas cantadas pelas mulheres. No final da renovação se houve costumeiramente os “vivas” aos santos que estão entronizados na parede da sala. Todos estes gestos fazem parte significativa do ritual celebrativo.
Logo após o rito devocional é organizado o momento do café do santo, em que se achegam à mesa em primeiro lugar os homens a convite do anfitrião; depois os rapazes e moças e só depois as crianças. Existe de certa forma, um estilo patriarcal de se executar a serventia do café. Ninguém sai sem experimentar do café, pois o dono da casa sai para o terreiro em busca dos convivas, chamando-os a todos, pois é sempre uma alegria recebe-los em sua casa.



Esta panacéia de ritos torna-se sacramental para a cultura do cariri. Por isso, a renovação traz em sua essência uma dimensão de regionalização do sagrado que só quem conhece sabe o real valor destes eventos. A renovação agrupa, congrega sentimentos, faz a comunidade sentir o valor e o significado do religioso em sua história. A religião foge do rótulo “ópio do povo”, pois instiga o povo a ser solidário, instituir alteridade dentro do grupo; fazendo com que todos se conheçam mutuamente

sexta-feira, 19 de fevereiro de 2010

As Rejeições do Mundo( Max Weber)

O capítulo XIII intitulado Rejeições Religiosas do Mundo e Suas Direções, contido na obra Ensaios de Sociologia de autoria de Max Weber, um dos mais renomados teóricos, que escreveu a respeito da sociologia da religião e que sua visão considerada “evolutiva”, ultrapassa as visões de autores também renomados como Marx e Durkheim, onde, muitos estudiosos consideram muito mais relevante, a participação de Weber no que se refere às análises feitas na área da Sociologia da Religião. Este está contido de diversos aspectos dicotômicos a respeito de misticismo e ascetismo, de religião e de valores concebidos no mundo. Esses valores nos dar a entender porque dos termos: racionalidades e irracionalidade concebidos por Weber e que tornou possível a clareza deste estudo.
Assim o capítulo supracitado trata de uma análise a respeito da religiosidade na China. Weber neste caso analisa a dicotomia ascetismo e misticismo que apesar da disparidade existente entre ambas elas se aproximam.
O Místico busca a elevação do espírito por meio da ascese e desta forma se contrapõe ao mundo. Neste caso, se desliga de tudo que é material e que é mundano. Busca contemplativamente transcender as barreiras do mundo e assim, o divino se manifesta por vias meditativas no místico. O ascético pelo contrário, está sempre em órbita com o mundo. Contudo na esfera contemplativa na busca pelo transcendente o ascético se aproxima do místico, especificamente no que se refere o misticismo ativo concebido por Weber como renuncias do mundo através da ascese. Só que diferentemente do misticismo há a busca por um Deus supramundano, mas que similar a este, o devoto não se coloca como instrumento, mas como recipiente. Ou seja, o divino se faz presente no místico e o místico no divino.
Neste mesmo parâmetro Weber encontra similitudes entre ascetismo e misticismo em meio à ação do místico voltado para o mundo. É o que ele concebe como um tipo de “misticismo do mundo”, pois assim como o ascético o místico pode se achar que em sua ação meditativa na busca da sublimação este não deva estar fora do mundo e das ordens que o rege.
Outro ponto analisado por Weber entre o misticismo e ascetismo é justamente a questão de racionalidade e irracionalidade. O místico na sua fase meditativa se desliga totalmente deste mundo para entrar em contato com o divino. Este está sublimado a uma condição não mais pertinente a esfera material. Transcendeu para uma esfera espiritual e o divino se encontra manifesto neste. No entanto esta experiência se dar no campo da irracionalidade.
O aspecto racional está mais voltado para o contexto do ascetismo no caso das chamadas religiões proféticas. Nestas religiões fica claro que as formas de rejeições do mundo ganha um novo direcionamento. Partindo do pressuposto que os profetas se contrapõem a ordem hierárquica vigente, que estes no intuito de pregar a salvação busca o bem do próximo como deseja a ele mesmo, ajudam as viúvas e auxiliam os que necessitam,e, desta forma foi-se gerando uma ética religiosa baseada na fraternidade e na ética da boa vizinhança, visando com isto alcançar a salvação. Assim as ações religiosas se dirigem para o âmbito da racionalidade. Desta forma surgem, nos diversos fatores da vida humana, várias tensões que se estabelecem entre a religião e o mundo e que servirão de base para a análise de racionalidade de Weber.
Essas tensões se dão na relação entre religião e as diversas esferas que compõem a vida humana. Tais como: a economia, a política, a estética, a esfera erótica e a esfera intelectual. Em todas estas fica visível o teor de racionalidade estabelecida, ora quando a religião se opõe e interfere, ora quando a religião serve de base para um desenvolvimento ético no âmbito dessas esferas visando o comportamento humano.

segunda-feira, 25 de janeiro de 2010

O MOVIMENTO ADVENTISTA

Não se pode falar do movimento adventista, sem que possamos lembrar de uma figura importante que se destacou como um verdadeiro líder religioso, incumbido de prontificar as almas para a segunda vinda de Jesus Cristo, que seria o advento. Assim, guiados por Guilherme Miller todos se preparam para a chegada de Jesus, que estava por vir naquele dia 22 de Outubro de 1844, o qual ficou conhecido como “o grande desapontamento”.
A origem do movimento adventista apresenta-se na primeira metade do século XIX, nos Estados Unidos, vinculada ao millerismo que empolga várias igrejas protestantes. Miller, ainda que não pretendesse fundar dissidência, foi compondo por comparações entre textos bíblicos, uma interpretação, a partir do livro de Daniel, que estabelece, através de um cálculo profético, uma cronologia que conjuga a história profana com a sagrada, visando a interpretar a profecia “das 2300 tardes e manhãs”, o que levou a sucessivas marcações de datas para a volta do Messias, surgindo assim uma corrente numerosa de adventistas.


“A base do adventismo era Daniel 8:14: “ Até duas mil e quarenta tardes e manhãs e o Santuário será purificado. Como um dia profético equivale a um dia literal (Números 14:34; Ezequiel 4: 5,6 e o período começa no ano do decreto da reconstrução de Jerusalém (Daniel 9:25/457 a.C) que se estenderia a 1844, quando o santuário, que se acreditava ser a Terra, seria purificado pelo fogo da segunda vinda de Cristo”.(DINIZ, 2008. p.14)


Miller, entendendo a "purificação" como volta do Messias e, muitos outros pregadores igualmente, marcaram data para o evento. Após muitas retificações, as comunidades adventistas aguardaram o Messias para 22 de outubro de 1844. A não ocorrência da profecia ficou sendo chamada de "o grande desapontamento" pelos adventistas. Embora muitos abandonassem a doutrina do advento, permaneceu um pequeno número de adeptos do adventismo que efetuou sob a confirmação de Ellen Harmon White, que passara a "receber visões" - por ela mesma considerada testemunhos -, uma retomada do universo simbólico, ainda disperso, mas que viria a se tornar nas "verdades fundamentais" da futura Igreja Adventista do Sétimo Dia, entre as quais constam as doutrinas do santuário, da guarda do sábado, da mortalidade da alma e a reforma de saúde, como as principais.


“Milhares que participaram da amarga experiência de 1844, desalentados, voltaram às suas igrejas de origem ou continuaram a marcar outras datas para a vinda de Cristo. Outros, que haviam entrado para o movimento apenas por algum interesse particular, abandonaram a causa por completo. Porém, outro grupo resolveu voltar à Bíblia em busca de respostas”.[1]


O millerismo empolgou os estados da Nova Inglaterra, atingindo Nova York, Filadélfia, Ohio, Michigam e chegando igualmente até o Canadá. Os futuros pioneiros da igreja, em grande parte, assistem a sermões de Miller, mais tarde iriam efetuar correções em suas interpretações e ampliar o alcance da ênfase profética, representando paulatinamente, uma cronologia mais rica, para a qual convergem inúmeras profecias e que visam a priorizar o profano e o sagrado em movimentos que sucedem com atributos específicos através dos quais chega-se ao “tempo do fim”, tempo que corresponde a várias interpretações da divindade na história humana e comissionamento que pela ação, a tornam caminho da salvação.
Os poucos adeptos que restaram do adventismo, vendo que a sua luta não era em vão, e que haviam cometido um erro ao interpretar as profecias não desistiram, voltando novamente para a Palavra de Deus – a Bíblia, no intuito de entenderem por que o Messias não apareceu naquele dia 22 de outubro de 1844. Relutantes, e convictos de suas idéias adventistas, foram expulsos de suas igrejas de origem e daí em diante, fundaram um movimento forte, que viria posteriormente marcar a trajetória da Igreja Adventista do Sétimo Dia para sempre.
Os fundadores do adventismo, não tinham uma estrutura religiosa sólida baseada em princípios e regras, mas para que a missão de preparar as pessoas para a vinda do Messias fosse profícua era necessário fincar base nas Escrituras Sagradas. O alicerce da fé adventista está toda sobreposta nos escritos bíblicos e também como auxílio para preparar o cristão para a vinda do Cristo de forma que todos pudessem estar puros de alma e coração, os adventistas iniciam trabalhos através de serviços sociais como: palestras contra drogas – fumo e álcool, a educação, a distribuição de panfletagem que auxiliava nos contágios e tratamentos de algumas doenças e etc, além de propagar a palavra de Deus. Trabalhavam também com os serviços de colportagem vendendo livros e revistas que tratava de assuntos sobre doenças, drogas, a bíblia e sobre os fins dos tempos.
Desta forma, baseadas nas escrituras sagradas, em 1863 o movimento adventistas se organiza em Assembléia Geral baseada nos princípios bíblicos principalmente, criam a Igreja Adventista do Sétimo Dia que cumprindo com os escritos sagrados guarda o sábado como dia do Senhor. Pois está escrito no livro dos Gêneses que Deus criou o mundo com tudo o que há e no sétimo dia ele descansou.


“Posteriormente, em 1863, os adventistas (agora Adventistas do Sétimo Dia) adotaram a Reforma Pró-Saúde, abstendo-se do fumo, álcool, carnes imundas (como a do porco – ver Levítico 11) e de tudo que prejudica o “templo do Espírito Santo” – o corpo humano. O passo seguinte foi obedecer às palavras de Jesus em Marcos 16:15: “Ide por todo o mundo, pregai o evangelho a toda criatura.” Conscientes disso, os adventistas passaram a proclamar pessoalmente, em conferências públicas ou através de publicações, suas convicções religiosas: Jesus como único Salvador pessoal; a volta de Cristo como única solução para um mundo em degeneração; a imortalidade condicional do ser humano; a aceitação da Bíblia como única regra de fé e prática;[...]”[2]


[1] Encontrado no site: http://adventismo.blogstop.com/2006/01/capitulo-2-o-avanço-da-mensagem.htm. A Chegada do Adventismo no Brasil, BORGES, Michelson. Tatuí – São Paulo: Casa Publicadora Brasileira, 2000
[2] Encontrado no site: http://adventismo.blogstop.com/2006/01/capitulo-2-o-avanço-da-mensagem.htm. Chegada do Adventismo no Brasil, BORGES, Michelson. Tatuí – São Paulo: Casa Publicadora Brasileira, 2000.

quinta-feira, 21 de janeiro de 2010

EX-VOTOS E A SIMBOLOGIA DO MILAGRE EM JUAZEIRO DO NORTE-CE

Fotografia de Silvério

Ana Cássia Félix de Sousa (Bolsista de Iniciação Científica da Universidade Regional do Cariri/Fundação Cearense de Desenvolvimento Científico e Tecnológico – URCA/FUNCAP)
Dra. Anna Christina Farias de Carvalho (Professora Adjunta da Universidade Regional do Cariri – URCA)

INTRODUÇÃO: A Presente proposta de estudo se insere no Grupo de Pesquisa Sociedade e Sistema Simbólico do Núcleo de Estudos Regionais da Universidade Regional do Cariri (NERE/URCA) dentro da linha de pesquisa Devoções Populares. Esta pesquisa objetiva investigar um dos aspectos das práticas culturais religiosas do Catolicismo Popular relacionadas ao pagamento de promessas através de ex-votos, no universo religioso do Cariri cearense. MATERIAL E MÉTODO: Trabalhamos com a História Oral e Memória, levantamento bibliográfico sobre o tema, registros fotográficos, entrevistas com promesseiros, romeiros e devotos que depositam seus ex-votos na Casa de Milagres Padre Cícero, em Juazeiro do Norte-CE. RESULTADO E DISCUSSÃO: Nosso estudo nos reportou ao universo multifacetado da Religiosidade Popular e ao universo do fiel em íntima comunhão com o sagrado, através de práticas e rituais devocionais, especificamente ao pagamento de promessas, que nos remete a um mundo onde a sacralidade, o divino, o sobrenatural, é a única solução para resolver os males que assolam o cotidiano de milhares de pessoas. CONCLUSÃO: A partir do levantamento de dados, podemos inferir que os ex-votos representam a esperança da concessão da cura e o agradecimento por uma graça alcançada.

Palavras-chave: Catolicismo Popular. Ex-votos. Cariri cearense.

quarta-feira, 20 de janeiro de 2010

O PROTESTANISMO NO BRASIL

igrejaluteranadeipatinga.blogspot.com/2009/10


Acredita-se que o protestantismo tenha chegado em território brasileiro através dos imigrantes alemãos que vieram para o Brasil habitar a região do Rio Grande do Sul. Era fim do século XIX e a República já havia sido proclamada. Anterior a este fato, a religião oficial válida em todo o território, era a católica, pois os colonizadores vindos da Europa introduziram o catolicismo na nova colônia portuguesa e não admitiam nenhum outro tipo de religião ou cultura, abominando as crenças dos nativos e dos africanos que vieram como escravo para trabalharem na colônia portuguesa. Também não admitiam qualquer outro tipo de fé. Com isto iniciaram incessantemente o período de catequização dessas duas raças. Porém é importante salientar, que apesar dos esforços, não teve como manter um catolicismo “puro”, baseado nos princípios romanos, pois não foi possível evitar a mistura de crenças dos três povos: portugueses, africanos e indígenas.


“O catolicismo só deixou de ser a religião oficial do Estado brasileiro no final do século XIX, quando a monarquia foi substituída pelo regime republicano, o qual abriu mão sem mais da religião oficial. A república velha desferiu um golpe mortal no regime do padroado, ao separar juridicamente a igreja católica do Estado nacional. Este foi, desde então, declarado laico. Isto é, religiosamente neutro, religiosamente isento, religiosamente abstrato”. (GAARDER, NOTAKER e ELLERN, 2004. p. 282)


Com a separação das duas instituições supracitadas, se torna então possível a liberdade religiosa. Desta forma possibilitou a introdução do protestanismo no Brasil, assim como outras crenças religiosas. Porém na mentalidade das pessoas, gravados nos recônditos de suas memórias, todo aquele que não professava a fé católica era tido como filho do demônio ou mandado pelo mesmo para desencaminhar as boas almas. Neste caso torna-se difícil, quase que impossível plantar a fé protestante em um país onde a totalidade da população, ainda que camufladamente – como os africanos – comungavam da mesma religião – a católica.
As primeiras iniciativas em trazer o protestanismo para o Brasil, veio por meio dos imigrantes alemãos que eram membros da Igreja Luterana que foi a pioneira – primeira igreja protestante a ser fundada no Brasil com o nome Igreja Evangélica Luterana do Brasil. Depois destas várias outras denominações foram surgindo ao longo do tempo, muitas com ramificações da Igreja Luterana, e outras como a igreja anglicana e as epsicopais.


Segundo Gaarder et al o protestanismo no Brasil se divide em dois aspectos: O Protestanismo de imigração e o protestanismo de conversão. Este último tem a intensão de converter as pessoas e adquirirem mais adeptos através da pregação da palavra de Deus em meios a tantas vicissitudes, mas crentes de que as pessoas estão sendo transformadas e almas estão sendo salvas em favor do evangelho e da fé em um único senhor- Jesus Cristo. Conforme Gaarder todas essas denominações saiam em missão pelo mundo para difundir a palavra de Deus culminando assim as variadas denominações.


No século XVII, surgiram numerosos movimentos que se cristalizaram em novas comunidades eclesiais com muitas características comuns. Os batistas, os adventistas e os pentecostais, rejeitam o batismo de crianças em favor do batismo de adultos, que inclui a imersão total na água. Os petencostais se subdividiram em várias congregações como por exemplo: a Congregação Cristã do Brasil, Assembléia de Deus, Deus é amor e etc.
Cada uma destas congregações tem seus princípios e preceitos tendo além do batismo imerso nas águas, as escrituras sagradas como “sacramento” a ser seguido tornando-se base principal de sua fé, a crença em um único senhor e salvador e a Escrituras Sagradas como a Verdade a ser propagada. Porém, um único denominador comum une protestanismo e catolicismo – o cristianismo – todas em meio a tantas denominações e congregações buscam uma única verdade: Cristo.
É importante destacar que, além do protestanismo a segregação do Estado e da Igreja promoveu a inclusão de outras religiões.


“Nunca houve tanta liberdade religiosa no Brasil como agora. Nunca antes as religiões foram tão livres para se estabelecer, competir entre si e se propagar como agora; o Brasil começa hoje a ver os efeitos dinamizadores que a liberdade religiosa tem trazido para o campo das religiosidades quando elas se põem em livre concorrência.” (GAARDER et al, 2004. p. 283)

quarta-feira, 6 de janeiro de 2010

Ainda Durkheim, Ainda Religião ( Pierre Sanchis)



No texto intitulado Ainda Durkheim Ainda Religião, do escritor Pierre Sanchis é notória a admiração do mesmo pelo sociólogo Émile Durkheim e seus escritos. Sanchis pretende com este artigo fazer um resgate do pensamento de durkheiminiano e busca fazer uma analogia ao tempo que estamos vivenciando. Em outras palavras, procura resgatar para os dias de hoje o conceito de sagrado e religião dos quais Durkheim com muita destreza postulou na sua obra As Formas Elementares da Vida Religiosa.
Sanchis começa por fazer uma retrospectiva da obra primeira de Durkheim As Regras do Pensamento Sociológico, segundo o escritor Durkheim se mostra preocupado com a questão do misticismo que naquela época estava renascendo no seio daquela sociedade. Porém o pensamento de Durkheim está mais voltado a questões de racionalidades, onde consequentemente acaba por contestar este misticismo e dar credibilidade ao racionalismo científico que é ponto marcante das sociedades modernas e que segundo Durkheim este transformará o campo ético e político da sociedade. O comportamento ético e político ainda se achavam arraigados a princípios de origens religiosos, no entanto através da razão, do racionalismo científico por assim dizer, de uma “operação racional e da formação de uma escola laica a sociedade seria de uma vez por todas liberta do “estorvo da religião,” assim ajuizava o sociólogo
Porém o ensino laico parece não se efetivar. Há certa desordem no que diz respeito a ética e ao comportamento moral das pessoas. A saúde moral estava sofrendo de uma grande enfermidade. Não havia mais respeito ético, moral e político pelo próximo e para com o próximo. A causa maior desta insanidade estava então no ensino laico que não teve fundamentos concretos para efetivar-se e para garantir uma sociedade com saúde moral perfeita. Para que a moral e a ética fossem de tal modo respeitados e praticamente exercidos tinham que ter suas bases fincadas na religião, assim reconheceu Durkheim. Estas não sobrevivem no seio da sociedade se não estiverem encravadas a princípios religiosos. “Para funcionar como cimento de uma nova sociedade a sociedade deve se revestir d’uma aura religiosa”, assim reconhece o sociólogo.
Em As Formas Elementares da Vida Religiosa, Durkheim ao contrário da sua primeira obra, ele ajusta sua forma de pensamento quanto no que se refere ao campo sagrado e se volta para a temática religiosa que antes ele havia negado, mas também ressalta a importância da ciência para o campo da razão. Porém neste recente estudo ele não coloca a religião como algo que está acima de tudo e de todas as coisas, nem tampouco dar supremacia a ciência, mas mostra a relação entre estas duas naturezas de forma que nenhuma possa vir a aniquilar a outra, tendo cada qual a sua relevância tanto para o indivíduo tanto quanto para a sociedade.
Durkheim reconhece de fato que o ser humano não pode viver sem religião. A religião é base para explicar o comportamento humano. Quando o homem se encontra eivado de fé este, tudo pode. Ele se enche de um poder que é sobrenatural que o mesmo se achando descrente não teria tal competência. A religião é a força renovadora que transforma, que salva, que dar ânimo. É através da religião que o ser humano encontra forças para superar as dificuldades, as vicissitudes e sofrimentos da vida cotidiana. E como refere-se o texto de Sanchis que tem por base Durkheim “o homem que vive religiosamente é antes de tudo um homem que experimenta o poder que não se conhece na vida comum, que não sente em si mesmo quando não se encontra em estado religioso”
A análise de Sanchis, neste pequeno artigo, apenas não só mostra questões relacionadas entre ciência e religião, mas trata também das categorias, do eterno na religião, da sociedade real e a sociedade ideal e da distinção entre sagrado e religião. Na verdade este trabalho é síntese esclarecedora da obra de Émile Durkheim onde compreendemos de forma elucidativa as questões postas pelo mesmo na Vida Elementares.
O rito o qual é retratado com mais ênfase por Sanchis é um dos elementos considerados eterno na religião, que existe nela e subsiste nela perpassando a cronologia dos tempos primitivos e se fazendo presente nas religiões mais contemporâneas. O Rito é o que dar vida e permanência a religião. É um produto da coletividade. Através do rito a sociedade se “faz e se refaz periodicamente”. É por meio do rito que a fé se cria e se recria. O rito tonifica, renova e dar constância a religião, mesmo sendo este de caráter repetitivo, mas que é através desta repetitividade que a fé se sustém e que avigora a religião.
No que se refere à sociedade real e ideal, o autor tece duas concepções a real no caso seria o que se tem de concreto na sociedade. O que de fato podemos ver sentir e viver. È o que a sociedade tem de tangível. Esta sociedade coexiste com a sociedade ideal e está “constituída pelos indivíduos que a compõe, pelas coisas que usam e pelos movimentos que utilizam”. Já a sociedade ideal esta, porém existe “antes de tudo pela idéia que ela se faz de si própria”. E esta dicotomia também está presente na religião, pois sendo o homem capaz de conceber o ideal e acrescer ao real, esta também é transposta para a esfera religiosa onde o sagrado como realidade ideal coexiste com a realidade real.
Enfim todos estes elementos dos quais vimos, fazem parte de um contexto social que é criado pelo indivíduo, mas que se transfere para a coletividade. Não existe sociedade sem uma ação coletiva. O indivíduo não existe por si só. Sem o outro e sem a ação do outro não há possibilidades de existir vida social. Assim também é a religião. Ela necessita para a sua sobrevivência de uma aceitação coletiva. Na verdade ela é fruto desta ação. Ela nasceu de uma necessidade individual do ser humano, mas que pra existir de fato como uma realidade real, precisa se revestir de termos criados e recriados pela coletividade no seio de uma sociedade concreta.
Neste contexto para finalisar frisamos o objetivo central de Sanchis que é perceber que todos estes elementos estão presentes nas religiões mais contemporâneas mesmo sendo estes frutos das origens mais remotas da vida religiosa. O que se nota na verdade é que o estudo de Durkheim partiu de pressupostos relevantes pertinentes as religiões primitivas, mas que foram recriados nas instituições religiosas modernas e que até hoje permanecem como elementos eternos.