segunda-feira, 31 de outubro de 2011

Transcendência Religiosa

       É a capacidade de superar os limites normais, adjetivo que pode ser a entidades de diversas naturezas. Conceito em que Deus pode estar próximo ou muito distante de determinado sujeito. È pela transcendência existente no homem, que ele tem  conhecimento de Deus como uma possibilidade natural, pois Deus,  é o fundamento dessa transcendência. Cada homem, na sua consciência, sabe que tem que se haver diretamente com Deus.
        A transcendência é estabelecida no homem como um dom de Deus, determinada pela autocomunicação ontológica da natureza espiritual de Deus, dada como a sua imagem a todo e cada homem, para que o homem possua aptdão de conhecer e amar a Deus. È conhecendo, amando e escolhendo a Deus, que o homem viverá na graça de Deus, sendo esta graça, como que uma preparação temporal que possibilita ao homem receber, na sua consumação em plenitude,  a autocomunicação perfeita de Deus em glória.

domingo, 30 de outubro de 2011

RESENHA DO FILME NARRADORES DE JAVÉ


 NARRADORES DE JAVÉ

O filme Narradores de Javé, de Eliana Caffé, conta a história de um povoado fictício denominado Javé, que está prestes a ser inundado por via da construção de uma hidrelétrica. Nestas circunstâncias os moradores do pequeno lugarejo, ameaçados pela hipótese de perder tudo o que ali se havia construído no decorrer de toda uma vida, de suplantar todas as suas reminiscências e deixar para trás a sua própria identidade quanto ao seu lugar de origem, entram em “parafusos”.
            Neste dado momento, um senhor já de idade dá uma idéia. “Não inunda se virar coisa importante, patrimônio”. Como assim patrimônio? Todos queriam saber como e de que forma isto poderiam ser feito. Estavam todos curiosos e fariam de tudo pra que não pudessem de forma alguma abandonar o pequeno lugarejo. Mas pra que Javé pudesse se transformar em patrimônio histórico fazia-se necessário que houvesse documentado de alguma forma toda a história da cidade, principalmente o histórico da sua fundação. Mas como se faria isto se Javé era um lugar tão pequeno, que nem existia no mapa?
            O Próprio mentor da idéia sugere que seja escrito em um livro a historia do lugar. Mas como se faria isto se em Javé todos eram analfabetos? Eis uma preocupação! Mas havia alguém que poderia ajudar. Antônio Biá era o carteiro da acanhada cidadezinha, e este havia sido degredado de exercer o seu ofício diário – pois consta num dos episódios do filme que Biá escrevia cartas em nome dos moradores de Javé por sua própria conta, para manter a sua profissão e continuar trabalhando. Porém a atitude incorreta de Biá é descoberta e este definitivamente é impedido de exercer o seu trabalho.
            Os habitantes de Javé vêem que esta é uma forma de Biá se redimir. E é incumbida a ele a missão de escrever o referido livro que futuramente seria o documento oficial usado para tombar e salvaguardar o pacato lugarejo como patrimônio histórico e cultural da humanidade.
            É neste momento que ingresso com uma das discussões que trata este ilustre filme – a relação entre o oral e o escrito. No filme Biá é conhecido como dado a florear as coisas, a enfeitar, distorcer os fatos, a usar da sua subjetividade. Deste modo pode se pensar no papel do historiador, que de certa forma usando da sua subjetividade constrói conjecturas e interfere direto ou indiretamente na história.
            Tendo como base a história de vida dos moradores de Javé e principalmente o relato oral de memória dos mais velhos, pra que estes possam contar como se deu a gênese do lugar, o que na história é chamado de “mito de origem” entra o papel de quatro personagens principais que de acordo com os seus relatos, foram os seus antepassados que fundaram a cidade. Cada qual conta a história a sua maneira de forma que sejam reconhecidos como sendo parte da casta do fundador da cidade de Javé. De acordo com as personagens, cada qual defende a sua narrativa como sendo veredicta. Desta forma percebe-se aqui que há uma disputa de memória.
             O primeiro entrevistado relata que o fundador foi Idaléssio que veio se fixar no lugar com a sua gente na época do ouro que sendo este vencido numa disputa pela conquista de território sai fugindo com a sua família e seu povo e vem habitar em Javé. Percebe-se aqui o intrometimento de Biá na tentativa de modificar a fala do entrevistado, segundo ele, “fugir não é algo digno” porque não “sair em retirada, em marcha ré de cara pro inimigo”. Este não é o único momento em que acontece de Biá dar controvérsia a fala dos personagens. Já Maria Dina diz que a instituidora do lugar foi uma mulher. Javé, segundo a entrevistada era uma comunidade matriarcal e que supostamente a fundadora fazia parte dos antepassados da personagem.
            O terceiro entrevistado é Firmino. Este faz um relato similar ao do primeiro entrevistado, só que discorda no momento em que Idaléssio saiu fugindo com o seu povo. Ele diz que saiu em retirada, confirmando com a suposição feita por Biá. Desta forma nota-se aqui a constante disputa de relatos, e as varia0ções e aperfeiçoamento pelo quais estes são submetidos.
            O quarto entrevistado é Pai Cariá outro personagem de origem africano, diz que foram os seus antepassados que fundaram Javé e faz o relato de toda a história sendo cantada no idioma de seu povo. Desta forma o nome do fundador se assemelha aos nomes cognominados pelos outros personagens. Idaleco este é o nome e a narrativa prossegue até que este se cala, pois se vê impedido pelas idéias e palpites que propõe Biá durante todo o contexto da história.
`           O filme ainda prossegue com outras entrevistas, outras histórias, porém as quatro que foram aqui destacadas discutem o que já fora supracitado nas linhas anteriores – “o mito de origem”.  É bastante interessante a história de Javé, pois o filme se encontra  eivado de vários aspectos bíblicos. A começar pelo próprio nome da localidade e  a maneira como este é inundado, o que evoca a passagem bíblica do dilúvio. Nesta circunstância observa-se que como no livro do Gêneses tudo parte de um mito de origem, de como se encontrou explicação para que os fatos fossem acontecendo. Em Narradores de Javé, as narrativas acontecem de forma semelhante e que explica o mito de origem da acanhada cidadela.
            Outro aspecto que podemos destacar no filme, é como este, através dos relatos orais das personagens, se aproxima tanto dos aspectos da tradição oral quanto da história oral. De certa forma, não podemos deixar de se colocar evidências com a história oral, sendo assim podemos enfatizar a história de vida de cada morador, e um dos aspectos que se evidencia nas narrativas orais é que esta por excelência resgata informações não registradas, mas que permanecem na memória e nas práticas do cotidiano.
             A tradição oral, que é algo que se nota com preponderância nas entrevistas concedidas pelas personagens, pelo simples fato de se está evocando para o momento presente as práticas sociais, culturais e religiosas de um grupo e que estas consistem na identidade, sobrevivência e consistência deste grupo. Estes são aspectos que se pode observar em quase todo o percurso do filme através dos relatos memoráveis dos entrevistados.
            Voltando ao que discutíamos a princípio – a relação entre o oral e o escrito, é chegada a hora da pronta entrega do livro, Biá se omite e pede que um garoto possa fazer a entrega do mesmo. Para surpresa dos moradores as páginas do livro permanecem em branco. Talvez Biá tenha entrado em parafusos com a complexidade de tudo que lhe fora relatado, e decidiu, não por querer, mas porque convinha deixar que tudo fosse oralmente expressado, já que passando da forma oral para o escrito, ele estaria dando limitações à complexidade do oral que se torna tão substancial nas reminiscências e memórias de cada indivíduo.