quinta-feira, 7 de outubro de 2010

A Prece: Marcel Mauss


Neste trabalho Mauss vem inovar nas questões metodológicas no que discerne a construção do conhecimento científico. Embora, durante todo o período da composição da obra, Mauss, não fez o uso de outros métodos, pois a sua pesquisa foi de cunho exclusivamente teórico, mas de grande contribuição especificamente para no que se refere ao estudo dos fenômenos religiosos.
A obra foi escrita em 1909, e veio neste período renovar as idéias da antropologia daquela época, pois criticava as diferentes tradições de estudo dos fenômenos religiosos e dos fatos sociais. Abordando de forma inédita este tema, observa nos estudos feitos anteriormente sobre o fenômeno “prece” um desinteresse do pesquisador com relação a possíveis relações diretas ou indiretas deste fenômeno com as mais diversas áreas da ciência.

As críticas recaem sobre as mais diversas áreas. Os fundadores da Ciência da Religião não foram capaze4s de levantar de forma profunda tal problema. Estudaram questões que se encontraram apenas no seu campo de estudo. Desde os filólogos, que se encarregavam de estudar determinada língua, sob uma ótica histórica, apreenderam-se apenas a seus significados, deixando de lado o sentido intrínseco, a sua eficácia. Quanto aos antropólogos que produziram trabalhos na área da religião, preocuparam-se apenas em traçar uma li8nha existente na vida religiosa de toda a humanidade. A História se preocupou mais em descrever a prece como um simples fenômeno religioso pertencente a rituais de várias religiões.

Por fim, os teólogos e os filósofos foram os maiores teóricos da prece. Os teólogos foram responsáveis por inúmeras teorias sobre a prece. Mas, embora tivessem produzido uma quantidade significativa, seus escritos eram prenhes subjetividades, o que não era considerado por Mauss, que foi muito influenciado pelo seu tio Emille Durkheim. Neste caso refere-se Mauss: “a maneira com que concebiam, é em si apenas um documento sobre seu estado de espírito”, ou seja, não era considerado um documento científico.

Já os estudos filosóficos são marcados pela presença de juízo de valor dos seus produtores. Preocupavam-se através de um método introspectivo, explicar tal instituição. Assemelham-se aos teólogos, por não estudarem diretamente a prece, mas sim a idéia que fazem sobre ela, baseados em idéias positivas, recebidas do conhecimento que tinham desta ciência.

O interesse de Mauss estudar a prece partiu da observação partiu de tal fenômeno, apesar de ocorrer externamente aos seus praticantes, é tão importante e mostra como uma mesma instituição pode desempenhar funções tão diversificadas apresentando-se em diferentes formas e mesmo assim não muda a sua natureza. Desta forma, a prece seria então o ponto central do processo evolutivo da vida religiosa das sociedades. De início, ela apresenta como uma forma rudimentar que passando pelas vicissitudes históricas, vai sendo redefinidas como cânticos salmodiais do mundo mágico-religioso e “se desenvolve depois, sem interrupção e termina por invadir todo o sistema de ritos”.

Ao considerar a prece como sendo “parte integrante de um ritual”, Mauss a define como uma “Instituição Social”, cujo estudo deve ser orientado pelo método sociológico de Durkheim, considerando-a como um fato social com características próprias. Apesar de toda a influência do durkheimiana no seu trabalho, Mauus vai mais além e redefine o método sociológico durkheimiano e o chama de “Fato Social Total, onde, segundo ele só se consegue entender o social se analisarmos em conjunto com as outras esferas da sociedade.

Mauss resume sua metodologia em três etapas: definição, observação e explicação. É preciso primeiramente definir o objeto de estudo, ponto inicial de qualquer pesquisa, a partir daí é que iremos conhecer quais são as possibilidades de estudo que temos. Assim ao ser definido o que se vai estudar, deve-se considerar todas as propriedades inerentes a tal fato. Trata-se basicamente de delimitar o objeto de estudo.


O propósito de Mauss é estabelecer um espaço compreensivo, pois até então o que se tem são noções confusas e vagas sobre o objeto a ser estudado. É importante que o pesquisador deve se privar de utilizar conceitos subjetivos, pois para o autor, é na própria sociedade que devemos encontrar a função da prece.

Ao tratar do método de observação, neste campo ele define dois conceitos que os denomina de “crítica externa” e “crítica interna”. A primeira tende a se preocupar com as datas, fontes, o método que foi utilizado, características científicas de quem escreveu o documento e etc . Trata-se do “coeficiente de erros”. Enquanto que a segunda vem sempre junta a crítica externa, e tem como objetivo situar o fato no seu meio, decompodo-o em seus elementos, ou seja, “situar o fato em si”. Determina-se a data do documento e a partir daí será elaborada uma análise do período histórico, do estágio de evolução e da característica que possui o fato.


Depois de definir os fatos e fazer as observações necessárias é preciso explicá-los. Para Mauss existe a “explicação esquemática” que partiria do gênero até chegar as espécies. Para isto seria necessário reunir um numero de caracter que fosse suficiente para formar uma noção genérica de um fenômeno, depois aplicaria essas noções em diferentes causas pára saber “em função de qual instituição deve variar”. Nesta explicação existe uma hierarquia, porém os gêneros e as espécies são retirados de qualquer tempo e espaço, ou seja, são tidos como dados num mesmo momento lógico. O segundo tipo de explicação é chamado de “explicação genética”, e assim como na primeira, esta segue u7ma hierarquia, só que vista cronologicamente. Segundo o autor, estudar a evolução de uma instituição ao longo do tempo seria bem mais fácil, do que a primeira explicação. Pois só com o estudo de “sucessão histórica das formas”, é que chegaremos a uma explicação coerente da prece.

Depois da explicação do método, o autor nos fornece informações sobre a prece. Ao considerar a prece como um rito religioso Mauss faz as seguintes informações sobre o rito; que os são atos, realizados de forma tradicionais, ou seja, adotado por uma coletividade ou por alguma personalidade reconhecida. O rito também se confunde com o costume, e o que pode ser rito aqui, as vezes é tomado como costume em outro lugar. Ele quase sempre exerce coerção sobre os indivíduos obrigando-os a adotarem para si e utilizá-los que a etiqueta mandar. Para Mauss existem ritos que se tornam eficazes se utilizados em épocas e de formas diferente; É o caso dos ritos agrários.
Existem os ritos mágicos, esses “bastam a si mesmos” e são ações que os mágicos fazem, estes estão relacionados aos fenômenos da natureza e geralmente são invocados espíritos tal ação. Existe ainda um segundo tipo de rito, que contém a intervenção de poderes sagrados ou religiosos. Esses poderes são em alguns casos, mais poderosos que os próprios ritos e se diferenciam de outros ritos por serem eficazes por intermédio de entidades religiosas. Desta forma, o rito pode ser definido como “atos tradicionais eficazes que se relacionam com as coisas consideradas sagradas”. Neste caso, Mauss nos direciona a olhar a prece como um rito religioso, pois possui as mesmas propriedades e a mesma eficácia que um rito religioso