sábado, 4 de agosto de 2012

História do ritual da bandeira de Santa Ana em Umburanas-ce


Umburanas é um pequeno distrito  da cidade de Mauriti localizada no interior do Sul do Ceará. Este pequeno e singelo lugar destaca-se entre os demais por ter um povo deveras receptivo, alegre e anfitrião, pois todos que têm o privilégio de estar em Umburanas sempre retorna com muitas saudades. É como costuma dizer as pessoas de lá. "Quem bebe da água de Umburanas sempre retorna". Ô aguinha doce!!!. Mas na verdade, não tem nada a ver com a água. As pessoas de Umburanas tem uma qualidade singular de lugares pequenos onde todo mundo se conhece, para o povo dessa "terrinha", é sempre muito bom receber familiares que vem de fora e que trazem amigos e parentes para participar e juntos comemorar o reencontro da vida. Claro, além de toda essa receptividade dos umburanenses Umburanas ainda guarda em sua atmosfera um pouco das manifestações religiosas que se faz muito presente. 
       Em Umburanas como em todos os distritos de Mauriti, se comemora a festa de santos padroeiros. Temos Santa Ana a padroeira e São Francisco de Assis, no Bairro São Francisco. A festa de Santana é uma manifestação religiosa de grande importância para os umburaneses. Um fato extraordinário ocorre 13 horas antes do hasteamento da bandeira de Santana. Os devotos da Santa se reúnem, sobretudo os noitários, compram centenas de fogos de artifícios e 5 horas da manhã a comunidade reunida vai assistir ao show pirotécnico que encantam a todos. Antes disso todos se cumprimentam, conversam e os que não se vêem a muito tempo, vivem o momento especial do reencontro.
        É de hábito do povo se reunir no patamá da igreja para o hasteamento da bandeira, que fica em um mastro defronte a mesma. Na festa de Senhora Santana este fato é deveras relevante. No dia 16 de Julho a abertura da festa, o mastro é arrancado a bandeira feita de tecido recebe um tratamento especial, onde é lavada e perfumada e as 6 horas da noite os devotos de Santa Ana se reúnem na calçada da casa de seu João Felipe de onde o mastro e a bandeira são levados em procissão. Antes são distribuídas velas às pessoas  que rezam, fazem jaculatórias e cantam hino bendizendo a Santa. Para as crianças são oferecidas chuvinhas que ao soltarem transmitem toda a alegria inicial da festa. É um momento bonito e agradável de se ver. Em seguida os devotos de Senhora Santana seguem com a bandeira em procissão. até o riacho Umburanas, onde o mastro é imerso na água para que o inverno seja próspero e a colheita farta durante todo o ano. A procissão segue pela rua central da capela , sendo levada ao interior da mesma por  dois anjos que se colocam a frente segurando a bandeira e logo atrás, por devotos que fazem promessas de levar até os pés do padre a referida bandeira. Ao chegar na igreja toda a comunidade está pronta para receber a bandeira que entra seguindo um tapete vermelho e as pessoas que esperam anciosas a entrada triunfal estendem as mãos fazem seus pedidos e rezam. Algumas até choram emocionadas ou por algum outro motivo. No final da missa, o mastro juntamente com a bandeira é levado até a frente da igreja onde as pessoas e o padre permanecem presentes até o final do ritual, rezando, colocando incenso e os devotos respondendo as jaculatória. No final a bandeira é erguida e todos aplaudem. Algumas famílias ao final do ritual distribuem chuvinhas para as crianças soltarem.   
          A origem da história do ritual da "Bandeira de Umburanas" é bem surpreendente e os moradores mais velhos relatam que devido a carência de chuvas que houve durante a seca de 1915 e assolou sobretudo o interior do Ceará, o rio que servia para dar água as criações de gado e cabras, para lavar roupas e aguoar as plantações secou, e assustou os moradores. Uma senhora fez uma promessa a Santa Ana e suplico-lhe piedosamente que se a padroeira mandasse chuva para a região, todos os anos ela iria levar a bandeira da Santa até o rio e molhar o seu mastro, para que nunca mais faltasse água. Até hoje, este ritual é seguido por todos os moradores de Umburanas que participam sempre com muito fervor  e devoção.
        Até os dias atuais a festa de Senhora Santa Ana é uma das mais tradicionais e todas as noites durantes os novenários da padroeira a igreja de tamanho médio comporta um grande número de pessoas que lotam seu interior e a parte externa. Todos participam religiosamente da novena da Santa, entoando os hinos alusivos e recitando as jaculatórias correspondentes.

sexta-feira, 16 de março de 2012

TRAÇOS DA FÉ NA EXPERIENCIA DE VIDA

Em meus trabalhos sobre religiosidade, entrevistei, muitos romeiros, pagadores de promessas, benzedores, pessoas de fé. Relato aqui com entusiasmo o resumo de uma entrevista, com um senhor muito devoto de Deus, Padre Cícero e Nossa Senhora das Dores.

A entrevista foi realizada com o senhor Antônio de 65 anos de idade que descreve a sua história de vida, baseada nos rituais católicos, pertinentes a Religiosidade Popular. 

No interior do Cariri é comum e muito forte o traço de uma religiosidade marcado pela presença de Deus, como sendo um ser que "fere e cuida da ferida". Seu Antônio, sempre trata Deus como um ser por excelência que já traçou em Seu livro, a vida de cada um. Sem Deus, ele não seria nada. E até mesmo, quando passa por alguma dificuldade por mais cruenta que ela pareça é por deliberação de Deus que ele experiencia tal fato.

Para seu Antônio, tudo é Deus que determina. E não há possibilidade de fugir do Seu olhar, que em algumas circunstância, castiga e salva.. Um fato muito marcante em sua vida, é a utilização de um rosário feito por cordão com continhas, confeccionado por algumas sementes artesanalmente preparadas pelo mesmo - que traz nos dois lado da medalha prateada, suspensa por um cordão, a imagem de Nossa senhora das Dores e do outro, a imagem de Padre Cícero, santos de sua devoção.

O significado daquele terço para seu Antônio, é indescritível, pois foi bento por Frei Damião - ícones das missões nordestinas, que quando vivo, vinha a região do Cariri - ele não retira de seu peito em nenhum momento de sua vida, e diz que quando morrer, quer ser enterrado com o terço. Ele tem convicção de que todo e qualquer malefício, pode ser superado pela presença do terço, que para o mesmo, é um escudo intangível contra todo tipo de mal. O mesmo diz que sem aquele amuleto não é nada e com o mesmo, é fortalecido com uma determinação sobrecomum, que não se explica, pois é uma forma de se proteger de todos os perigos do cotidiano. E tendo sempre contato com aquele terço, nenhum mal lhe acontecerá, pois Deus manifesto naquele objeto simplório, será seu guardião cotidiano.

O dia-a-dia de seu Antônio começa assim: logo pela manhã ele já tem como hábito a reza de jaculatória, como um Pai Nosso e três Aves-maria e sempre ao levantar-se coloca costumeiramente o pé direito no chão, para que durante todo o dia, esteja imune a tentação do mal. Sempre nos dias 20 de cada mês, veste preto, como sentido de sua devoção ao Padre Cícero, pois por intermédio do Santo já teve a graça de ter se curado de diversas enfermidades. Ele relata que quando seu filho mais velho nasceu, no centro de sua cabeça, existia um abcesso, bastante grave, e que, segundo alguns médicos afirmaram que seu filho poderia com o tratamento, ficar parcialmente curado, porém com algumas sequelas. Ele se valeu de Padre Cícero fazendo uma promessa e se pela intervenção do Santo, seu filho ficasse totalmente curado, todo o dia 20 do mês, ele usaria preto e sempre nas romarias, visitaria os lugares sagrados de Juazeiro, como os santuários e igrejas, e principalmente o Horto. Ele diz que não demorou muito tempo, dentro de um ano, o seu filho estava curado.

Outro fator bastante presente na vida de seu Antônio é a crença nas benzedeiras, para curar doenças comuns, como dor de cabeça, quebrante, etc, que segundo o entrevistado, com a fé devota na reza, as enfermidades serão afugentadas. Segundo ele, existem pessoas que tem uma energia negativa, que quando olham para as crianças pequenas, causam-lhes certa fraqueza física e que só será combatida com as orações milagrosas das benzedeiras.

Outro fator curioso é referente à proteção de sua casa, que segundo ele, toda noite de São João quando a fogueira se reduz a cinzas, ele recolhe aquelas "cinzas santas", que servirão como muralha quando colocadas em torno da casa impedindo que forças maléficas adentrem aquele lar. No caso da madeira (tições), como chama o mesmo, os que não foram queimados totalmente são guardados como " relíquias", pois servirão para serem usados nas três noites de escuro que acontecerão no fim do mundo, e que somente as mesmas, poderão clarear a trevas infindas destes dias de clamor.

Todo este acervo de crenças proferida pelo seu Antônio, ainda perdura na mente de muitos sertanejos, que com sua fé aparentemente ingênua acredita sem reserva na intervenção divina em cada momento de sua vida.

quinta-feira, 2 de fevereiro de 2012

CRÍTICA A FILOSOFIA DO DIREITO DE HEGEL

Desenvolver uma análise a respeito da obra “A crítica da filosofia do direito de Hegel, torna-se um tanto difícil sem que se tenha um conhecimento prévio a respeito de Hegel e do seu pensamento. Porém, a priori, o que se pode notar depois de uma breve leitura sobre o texto, é que Karl Marx não quis somente fazer uma crítica a Hegel e não tão somente recriminar a religião, mas, sobretudo, tinha ele o intuito de lançar uma crítica ferrenha ao Estado alemão defendido por Hegel. 

 Marx, para chegar ao seu objetivo de fato, começa por fazer uma crítica à religião. Segundo ele, a crítica da religião seria a premissa para todas as críticas. Neste momento é notória a repulsa de Marx pela crença religiosa. A religião é o “ópio do povo”, ele deixa claro. Enquanto o ser humano buscar a sua superação nos seres, entidades e objetos religiosos, este não poderá se reconhecer como um ser, que terá a mesma potência, sem que esteja voltado à um contexto religioso. A religião, segundo Marx aliena o homem. A busca incessante pelo sobrenatural define o seu estado de miséria. Enquanto ser racional dotado de capacidade, o homem pode se tornar um ser supremo, que pode se realizar e superar os seus anseios sem o auxílio da religião. Sendo assim, imbuído deste pensamento crítico, é que se daria a supressão da religião. Porém, para Marx, enquanto o homem se encontrar arraigado aos princípios religiosos, enquanto este acreditar que existe um ser supremo que rege todas as coisas e que sua vida decorre em torno deste, o homem se torna então um ser alienado, por si próprio, pois segundo ele, a religião é a auto-alienação do homem. 

 Como Marx não pretende somente lançar críticas à religião, mas sobremodo ao estado alemão, este, não se abstém em tercer criticamente censuras sobre a maneira como este atuava, e o modo como este foi sendo projetado no decorrer do tempo. É interessante observar, que o pano de fundo, na qual é tecida toda a crítica, é justamente o pensamento hegeliano em relação ao Estado que lhe serve de base. Marx então julga o Estado alemão como retrógado, atrasado e se refere a ele como “o passado dos outros estados europeus” e nas entrelinhas, critica o pensamento abstrato de Hegel, culpando-o em parte, pelo atraso fenomenal da Alemanha. Além disso, o estado alemão é, ainda, opressor. Utilizando-se de amarras que impedem o pleno desenvolvimento do povo, ele o aliena. Para Marx as amarra supracitadas são meios de opressão, aceitável pelo o homem a medida que ele se reconhece e constitui-se parte disso. Neste caso se auto-aliena. Neste sentido, para Marx, são amarras que impedem o pleno desenvolvimento do homem: à religião, a fragmentação da sociedade em classes e nações. 

 Marx acredita que para o ser humano ser liberto de toda esta opressão, seja necessário fazê-lo acordar. Como então fazer isso? Forçando o povo a enxergar que estar sendo oprimido inserido neste sistema. É fazendo com que, as dificuldades impostas ao povo alemão sejam ainda mais penosas para fazê-lo reagir a este processo e se dar conta da sociedade injusta em que vive, tentando de alguma maneira modificar essa realidade. É aí que entra a questão do proletrariado, o pano onde se tece toda a teoria marxista. Marx identifica no proletáriado o gérmen da subversão à estrutura vigente. Ele afirma que por esta ser a classe mais oprimida e explorada, acordará de seu sono alienante, percebendo a opressão antes que as outras. Aí então se rebelará e se livrará das amarras opressivas. Neste caso, Marx proclama a luta de classes como o motor da história e a classe proletária como a classe que subverterá a atual ordem mundial.