terça-feira, 13 de setembro de 2011

O Adventismo na Região do Cariri


 O Adventismo na Região do Cariri

No Ceará, os primeiros adventistas que estiveram nesta região foram os colportores (pessoas que vendem literaturas referentes a vários temas como: saúde, drogas, educação e religião). A princípio esses colportores junto com o pastor Rubens Lessa decidiram vir evangelizar aqui na região do Cariri.
Ao chegarem a Barbalha viram uma grande placa que dizia: “Atenção senhores protestantes: Barbalha de Santo Antônio já se acha evangelizada.”, lembra o pastor. Eles decidiram começar o trabalho em Crato não porque tiveram medo da reação do povo em Barbalha, mas o plano era começar pelo Crato, que era uma cidade grande, de cultura elevada, sem preconceito religioso e muito bela. Uma publicação de 1958 de José de Figueiredo filho faz uma apologia a belíssima cidade: “O Crato teve importante papel na história do Ceará, como possuidor de importantes estabelecimentos de ensino e de grande riqueza cultural”.
O Cariri sempre foi uma região privilegiada por ser um vale verde com muitos mananciais de água, balneários, uma chapada extraordinária que faz toda a beleza do lugar e teve reconhecida oficialmente a primeira Floresta Nacional, a FLONA-ARARIPE. Se destacou principalmente em relação a educação, sendo que na cidade de Crato foi fundada a primeira faculdade de Filosofia. Também o Cariri se destaca por conter uma grande religiosidade popular, especialmente herdada por pessoas que marcaram a história do lugar, especificamente a história de Juazeiro, Crato e Barbalha.
 Entre as pessoas que marcaram a narrativa histórica da cidade e contribuíram na construção da religiosidade estão: Frei Carlos de Ferrara, que sua historiografia de vida está ligada a cidade de Crato, especificamente a Igreja deste lugar, aos povos nativos que ali viviam e a formação da cidade. O Padre Cícero, fundador da cidade de Juazeiro do Norte, o qual se tornou santo popular ainda em vida, pessoa de muita bondade, um líder religioso muito prudente e Juazeiro não seria hoje o que é se não fosse o Padre Cícero. Ícone da religiosidade do Povo Caririense. E Padre Ibiapina grande pregador da palavra de Deus, percorria todo o Nordeste em busca de ajudar as pessoas que tivessem maior dificuldade e que fez história na região do Cariri e em Barbalha, onde construiu uma casa de caridade e outras obras em favor do povo.
As três cidades supracitadas e todo o Cariri cearense possuem um povo bastante arraigado à fé católica. Pregar o protestanismo e fundar igrejas protestantes por essas terras foi bastante dificultoso, pois o povo não aceitava de forma alguma outro tipo de fé que não fosse o catolicismo. Muitos missionários que puseram os pés nesta região enfrentaram muitos obstáculos, a missão foi um tanto dificultosa, mas, mesmo em meia a tantas vicissitudes, continuaram firmes com o intuito de cumprir a sua missão.
Como já se sabe, o adventismo na região caririense também chegou por meio dos folhetos, leituras voltadas para a educação e também pela literatura bíblica. Tudo teve início com os colportores que vendiam livros por esta região, em parceria com o pastor Lessa e alguns obreiros decidiram fazer um evangelismo no Crato. Procuraram alugar um salão, mas não acharam nenhum local disponível, pois todos estavam “cheios de rapaduras”. Como não acharam salão no Crato, decidiram fazer o evangelismo em Juazeiro do Norte, pois lá no centro da cidade havia um cinema que estava fechado. Alugaram então o local e começaram o evangelismo lá, através de reuniões e de conferências.
As primeiras dificuldades que tiveram pela frente estavam principalmente ligadas a figura do Padre Cícero, fundador da cidade e considerado santo na mentalidade popular. O santo padre é reverenciado por multidões de romeiros que vêm das mais distantes partes do nordeste e de todo o país. Juazeiro é considerada a “cidade santa”, a “Meca do Nordeste” assim mencionadas em várias obras de autores ilustres como Ralf Della Cava, e José de Figueiredo Filho, entre tantos outros. È uma das cidades que concentra grande multidão de peregrinos que acreditam no santo milagreiro, e se deslocam constantemente a Juazeiro em busca de alento e salvação. Crentes de que a fé no Padre Cícero pode mudar as suas vidas.

“Portanto, as peregrinações aos “lugares santos” são destino de concentração da expressão máxima de crentes e passa a ser motivo de deslocamento de uma imensa massa de viajantes, que buscam através da fé, a esperança, o milagre, a superação de sua infelicidade, a cura emocional e a materialização dos desejos de amor, perdão e misericórdia. O santuário, o local sagrado passa a ser visto e definido como um lugar privilegiado de evangelização e de libertação”. (DIAS, 2004. p. 98)

Apenas 24 anos após a morte do padre Cícero (1958) foi feita a primeira tentativa oficial de evangelizar Juazeiro do Norte com a mensagem adventista. O evangelismo começou no segundo semestre de 1958.
O público de classe média era formado por crianças, jovem e a maioria adulta. O evangelismo começou num sábado a noite seguiu no domingo, terça e finalmente quinta. Quatro reuniões por semana. Nos três meses que se seguiram foram realizadas mais de trinta reuniões. Tudo levava a crer que ao final uma igreja seria estabelecida, a julgar pelo interesse das pessoas. Mas no último domingo, à hora da missa o padre fez um pronunciamento: “Se o padre Cícero fosse vivo não deixaria os protestantes invadirem a cidade”. A freqüência às reuniões do evangelismo incomodou e feriu o domínio que os católicos tinham sobre a cidade que outrora era total. Como efeito do pronunciamento a assistência ao evangelismo caiu significativamente constando apenas um pequeno número de pessoas. Esses remanescentes permaneceram até o final do evangelismo. A ação da igreja Católica não ficou nisso. Houve uma concentração na Praça Padre Cícero com discursos inflamados.
Segundo consta na obra de Diniz, só não houve um acontecimento trágico porque naquela noite à recepção do evangelismo, chegou um senhor que nunca tinham visto e avisou: “Olha, lá na praça tem cerca de três mil pessoas e eles vêm para cá acabar com vocês.”. Rapidamente despediram o povo e fecharam as portas. A multidão chegou armada de paus e gritava ininterruptamente palavras de ameaças a ponto de fazerem os missionários temerem. Alguém, vendo que poderia ocorrer uma tragédia, foi avisar à polícia, que veio em um Jipe e os levou para casa.
A multidão se dispersou, mas o ódio permaneceu em seus corações. Nas noites seguintes seu alvo foi a casa onde se hospedavam os evangelistas. Segundo Diniz, jogavam pedras grandes, colocavam fezes embaixo da porta. Até mesmo o dono da casa que havia locado o imóvel onde se reuniam sofreu essa última agressão, tendo seu comércio sido também alvejado por fezes, em represália por, mesmo sendo católico, ter locado uma casa aos protestantes. O caso foi comunicado ao secretário de segurança do estado, que veio falar com os padres. A partir daí a perseguição de caráter físico cessou e eles terminaram a conferência em paz.

“Era difícil ser crente em Juazeiro... por muito tempo... era difícil realizar cultos ao ar livre. Quase sempre eram interrompidos pelos fanáticos. Multidões chegavam de repente e começavam a chingar os crentes. Jogavam areia, pedras ou qualquer coisa que encontrassem. Ás vezes era necessário a presença de policias militares. Apesar das perseguições, os crentes não deixavam de pregar o evangelho por toda a cidade”. (DINIZ, 2008.p. 31)

Antes de vir pregar em Juazeiro do Norte, muitos missionários foram advertidos de que embora o vale do cariri tenha algumas cidades grandes seria muito difícil porque o povo é fanático pelo padre Cícero. Alguns foram desencorajados de vir porque sairiam em pouco tempo.
A oposição vinha dos líderes religiosos católicos, os quais tentavam a todo custo, afastá-los e expulsá-los da cidade. Segundo Diniz, o clero fazia muita pressão sobre quem trabalhasse para os missionários ou mesmo quem lhes vendessem alimentos ou ajudassem de qualquer forma. As formas de perseguição eram variadas, mas, duas se destacavam: O padre insuflava uma multidão para interromper seus cultos ou conferências; e grupos diferentes se organizavam por conta própria e perseguiam os crentes. Apesar das perseguições, os crentes não deixavam de pregar o evangelho por toda a cidade.
No nordeste, pregar publicamente uma doutrina não muito popular era temerário. Pois, além de sofrer insultos, ameaças e agressões físicas, havia igrejas evangélicas que se opunham fortemente à mensagem adventista. Apesar dessas dificuldades, a mensagem adventista conseguiu penetrar a região do cariri, conquistando muitos adeptos. A Igreja Adventista do Sétimo Dia na região do Cariri conta hoje aproximadamente com 1500 membros, distribuídos em 27 congregações.
 Para tanto saga da igreja adventista na região caririense é um exemplo de persistência em levar a verdade evangelizadora a um lugar onde o catolicismo se fazia e ainda hoje se faz forte. Mas naquela época a dificuldade era maior ainda, pois até então, em Juazeiro do Norte os que pretendiam pregar outro credo, eram bastante perseguidos e sofriam muitas ameaças e injúrias, tanto por parte dos adeptos do catolicismo – os fiéis – quanto pelos padres que insuflavam nas pessoas a aversão a outros tipos de crença, especificamente aos protestantes por durante o tempo da reforma, estes se puseram contra a Igreja Católica e seus princípios.
Porém, vistos que tinha uma missão a cumprir os missionários protestantes se agarravam a palavra de Deus e a fé que tinham de transformar a vida das pessoas que andavam por caminhos errantes e anunciar o tempo do fim, para que ainda houvesse tempo de purificar o corpo e a alma para a segunda vinda de Jesus Cristo. E este tempo estava cada vez mais próximo, visto que muitas profecias bíblicas que anunciavam o fim estavam acontecendo.
Durante a missão, muitas pessoas se converteram e aderiram a nova religião que chama atenção devido ao estilo de vida de seus fiéis e também por se dedicarem bastante à obediência aos dez mandamentos, principalmente ao quarto que se refere a guarda do dia do Senhor, onde todas as escrituras sagradas, apontam para o Sábado.

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