No texto intitulado Ainda Durkheim Ainda Religião, do escritor Pierre Sanchis é notória a admiração do mesmo pelo sociólogo Émile Durkheim e seus escritos. Sanchis pretende com este artigo fazer um resgate do pensamento de durkheiminiano e busca fazer uma analogia ao tempo que estamos vivenciando. Em outras palavras, procura resgatar para os dias de hoje o conceito de sagrado e religião dos quais Durkheim com muita destreza postulou na sua obra As Formas Elementares da Vida Religiosa.
Sanchis começa por fazer uma retrospectiva da obra primeira de Durkheim As Regras do Pensamento Sociológico, segundo o escritor Durkheim se mostra preocupado com a questão do misticismo que naquela época estava renascendo no seio daquela sociedade. Porém o pensamento de Durkheim está mais voltado a questões de racionalidades, onde consequentemente acaba por contestar este misticismo e dar credibilidade ao racionalismo científico que é ponto marcante das sociedades modernas e que segundo Durkheim este transformará o campo ético e político da sociedade. O comportamento ético e político ainda se achavam arraigados a princípios de origens religiosos, no entanto através da razão, do racionalismo científico por assim dizer, de uma “operação racional e da formação de uma escola laica a sociedade seria de uma vez por todas liberta do “estorvo da religião,” assim ajuizava o sociólogo
Porém o ensino laico parece não se efetivar. Há certa desordem no que diz respeito a ética e ao comportamento moral das pessoas. A saúde moral estava sofrendo de uma grande enfermidade. Não havia mais respeito ético, moral e político pelo próximo e para com o próximo. A causa maior desta insanidade estava então no ensino laico que não teve fundamentos concretos para efetivar-se e para garantir uma sociedade com saúde moral perfeita. Para que a moral e a ética fossem de tal modo respeitados e praticamente exercidos tinham que ter suas bases fincadas na religião, assim reconheceu Durkheim. Estas não sobrevivem no seio da sociedade se não estiverem encravadas a princípios religiosos. “Para funcionar como cimento de uma nova sociedade a sociedade deve se revestir d’uma aura religiosa”, assim reconhece o sociólogo.
Em As Formas Elementares da Vida Religiosa, Durkheim ao contrário da sua primeira obra, ele ajusta sua forma de pensamento quanto no que se refere ao campo sagrado e se volta para a temática religiosa que antes ele havia negado, mas também ressalta a importância da ciência para o campo da razão. Porém neste recente estudo ele não coloca a religião como algo que está acima de tudo e de todas as coisas, nem tampouco dar supremacia a ciência, mas mostra a relação entre estas duas naturezas de forma que nenhuma possa vir a aniquilar a outra, tendo cada qual a sua relevância tanto para o indivíduo tanto quanto para a sociedade.
Durkheim reconhece de fato que o ser humano não pode viver sem religião. A religião é base para explicar o comportamento humano. Quando o homem se encontra eivado de fé este, tudo pode. Ele se enche de um poder que é sobrenatural que o mesmo se achando descrente não teria tal competência. A religião é a força renovadora que transforma, que salva, que dar ânimo. É através da religião que o ser humano encontra forças para superar as dificuldades, as vicissitudes e sofrimentos da vida cotidiana. E como refere-se o texto de Sanchis que tem por base Durkheim “o homem que vive religiosamente é antes de tudo um homem que experimenta o poder que não se conhece na vida comum, que não sente em si mesmo quando não se encontra em estado religioso”
A análise de Sanchis, neste pequeno artigo, apenas não só mostra questões relacionadas entre ciência e religião, mas trata também das categorias, do eterno na religião, da sociedade real e a sociedade ideal e da distinção entre sagrado e religião. Na verdade este trabalho é síntese esclarecedora da obra de Émile Durkheim onde compreendemos de forma elucidativa as questões postas pelo mesmo na Vida Elementares.
O rito o qual é retratado com mais ênfase por Sanchis é um dos elementos considerados eterno na religião, que existe nela e subsiste nela perpassando a cronologia dos tempos primitivos e se fazendo presente nas religiões mais contemporâneas. O Rito é o que dar vida e permanência a religião. É um produto da coletividade. Através do rito a sociedade se “faz e se refaz periodicamente”. É por meio do rito que a fé se cria e se recria. O rito tonifica, renova e dar constância a religião, mesmo sendo este de caráter repetitivo, mas que é através desta repetitividade que a fé se sustém e que avigora a religião.
No que se refere à sociedade real e ideal, o autor tece duas concepções a real no caso seria o que se tem de concreto na sociedade. O que de fato podemos ver sentir e viver. È o que a sociedade tem de tangível. Esta sociedade coexiste com a sociedade ideal e está “constituída pelos indivíduos que a compõe, pelas coisas que usam e pelos movimentos que utilizam”. Já a sociedade ideal esta, porém existe “antes de tudo pela idéia que ela se faz de si própria”. E esta dicotomia também está presente na religião, pois sendo o homem capaz de conceber o ideal e acrescer ao real, esta também é transposta para a esfera religiosa onde o sagrado como realidade ideal coexiste com a realidade real.
Enfim todos estes elementos dos quais vimos, fazem parte de um contexto social que é criado pelo indivíduo, mas que se transfere para a coletividade. Não existe sociedade sem uma ação coletiva. O indivíduo não existe por si só. Sem o outro e sem a ação do outro não há possibilidades de existir vida social. Assim também é a religião. Ela necessita para a sua sobrevivência de uma aceitação coletiva. Na verdade ela é fruto desta ação. Ela nasceu de uma necessidade individual do ser humano, mas que pra existir de fato como uma realidade real, precisa se revestir de termos criados e recriados pela coletividade no seio de uma sociedade concreta.
Neste contexto para finalisar frisamos o objetivo central de Sanchis que é perceber que todos estes elementos estão presentes nas religiões mais contemporâneas mesmo sendo estes frutos das origens mais remotas da vida religiosa. O que se nota na verdade é que o estudo de Durkheim partiu de pressupostos relevantes pertinentes as religiões primitivas, mas que foram recriados nas instituições religiosas modernas e que até hoje permanecem como elementos eternos.
Muito bom!
ResponderExcluirMe ajudou bastante em uma pesquisa acadêmica.
Que bom que meu blog te ajudou em alguma coisa... é essa a minha intensão!!! Obrigada por acessar a página.
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